Serviço Voluntário Europeu pode fazer diferença no acesso ao mercado de trabalho
“O que se aprende não se traduz no CV”, dizem, mas fazer voluntariado europeu facilitou-lhes o acesso ao mercado de trabalho. Jovens até 30 anos podem inscrever-se
Para lá do intenso odor a tabaco que se fazia sentir assim que entrámos na TOCA, associação criativa no centro de Braga, ao fundo já se ouviam as vozes de quem partilhava a sua experiência de trabalho voluntário no estrangeiro. Quando Mario Momzo, espanhol de 26 anos, se inscreveu no Corpo Europeu de Solidariedade (CES) através da associação Euroacción nunca imaginou que iria parar a Braga.
Mestre em História pela Universidade de Alicante, o jovem começou por ter uma oferta para a Hungria, mas não só não se revia no projecto, como não apreciava o país. Recusou e manteve-se alerta. Apareceu Portugal na calha e uma associação criativa por detrás — a Synergia — que o acolhia e lhe financiava a estadia.
Chegou em Dezembro de 2016. O impacto da mudança foi díficil, a integração também. “No primeiro mês, pensei várias vezes em desistir”, só que, ao mesmo tempo “queria muito ter esta experiência de trabalhar fora”, explica. “Passei toda a vida a estudar. Quis fechar esse ciclo e viver uma experiência enriquecedora como esta”.
Está, desde então, responsável por um programa de rádio na Universidade do Minho em conjunto com um colega italiano e mil ideias fervilham para ocupar o tempo até Outubro, altura em que o programa de mobilidade termina.
Os dias de Mario passam-se entre a associação TOCA e a Universidade, onde para além do programa, faz pesquisa na biblioteca e frequenta, duas vezes por semana, aulas de português.
É um “freak” da História e quer ser professor. Para isso, considera necessário fazer “um caminho de preparação” e não tem dúvidas de que o Serviço Voluntário Europeu (SVE) é um bónus: “Se eu for com o meu CV a uma empresa, a uma escola, o voluntariado num país que não o meu só pode ser valorizado”, aponta.
Também Sara Moreira, “numa destas Semanas Europeias da Juventude” inscreveu-se no CES e, pouco depois, ao abrigo do Erasmus+, aterrou em Marselha, mais precisamente em Fraisvallon, que diz ser “o bairro social mais perigoso da cidade”.
Impulsionada por uma boa dose de coragem, a psicóloga “sentia que precisava de algo diferente, de ter conhecimentos que não se põem no papel”, frisa.
Interagir com a comunidade muçulmana, lidar com situações de stress e violência e ser mais tolerante são alguns dos aspectos que salienta.
Cansada de trabalhos precários, a "part-time" e altamente instáveis, em duas semanas estava a leccionar inglês e informática para adultos e a acompanhar crianças nos tempos livres.
O maior choque foi o preconceito, assimilado desde muito cedo. “Lembro-me de uma vez estarmos numa visita de estudo e uma menina muçulmana, que devia ter cinco anos, ver um cartaz da Marine Le Pen e lhe ter chamado má. ‘Ela quer que a minha mãe volte para o país dela’”.
Fruto da experiência de Voluntariado Europeu, que durou seis meses, Sara teve agora uma oportunidade de trabalho. Está a iniciar um estágio profissional no gabinete de apoio ao empreendedor da Synergia e prevê manter-se por lá, com um contrato.
Portugal é o país per capita com mais jovens inscritos no Corpo Europeu de Solidariedade. Segundo os dados da Agência Nacional, em média, por ano, recebem 800 candidaturas, das quais 100 são seleccionadas.