O brilho do circo moderno sem crueldade

Os animais de circo não estão incluídos na lei de criminalização dos maus-tratos. É urgente acabar com esta prática que retira seres sencientes do seu habitat natural e os obriga a treinos cruéis

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Paulo Pimenta

A declaração do Intergrupo do Bem-Estar e Conservação de Animais sobre os efeitos da vida de circo em animais selvagens, de Setembro de 2015, apresenta-nos as principais implicações para o bem-estar de animais selvagens numa vida de circo, que vão do confinamento extremo de espaço, à impossibilidade de expressão dos seus comportamentos naturais, à separação precoce da progenitora, à restrição forçada das interacções sociais, aos treinos rigorosos e comprovadamente desconfortáveis para os animais e às viagens frequentes que perturbam os seus ritmos naturais, entre outros constrangimentos.

Os animais de circo não estão incluídos na lei de criminalização dos maus-tratos, que entrou em vigor a 1 de Outubro de 2014, pelo que é urgente acabar com esta prática que retira seres sencientes do seu habitat natural e os obriga a treinos cruéis com a finalidade de aprenderem tarefas que não correspondem a qualquer comportamento característico da sua espécie, unicamente para entretenimento de algumas pessoas, com a agravante de transmitir às crianças ideias erradas sobre os animais e a vida selvagem.

Muitos dos espectadores são crianças que ao assistirem acabam por não ter uma noção do verdadeiro comportamento dos animais, interiorizando uma visão destes como instrumentos do ser humano, ou seja, uma visão antropocêntrica do mundo. Na Madeira, o PAN já conseguiu a proibição da presença de circos com animais no Funchal pela respetiva Câmara Municipal e o Deputado Municipal do PAN por Lisboa, Miguel Santos, apresentou na Assembleia Municipal uma recomendação à autarquia com o mesmo objectivo, proposta que foi aprovada por maioria.

O ser humano autoconsiderou-se, durante milhares de anos, superior à Natureza. Essa superioridade permitiu-lhe usar os restantes seres vivos como se de objectos se tratassem. O ser humano foi considerado como proprietário de toda a Natureza. A propriedade tornou-se assim o centro da organização societária. Os proprietários fazem o que querem com a sua propriedade, desde que isso não afecte outras pessoas mas a propriedade em si não tem direitos. Daqui nasceu a ideia que os animais são coisas que nascem ou são criadas para nos servir, e esta presunção utilitarista que está fortemente enraizada na nossa sociedade é o que tem provocado o sofrimento continuado de biliões de animais em todo o mundo. Por este motivo, a aprovação da alteração do estatuto jurídico dos animais, que se prevê aprovar consensualmente esta semana no parlamento, é um marco histórico, que junta Portugal aos países mais evoluídos nestas matérias.

Acreditamos que a proibição dos animais no circo vem valorizar o artista humano. As pessoas já estão a exigir circos sem animais e a apreciar o brilho do espectáculo moderno sem sofrimento nem crueldade.

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