Democratas vão recuperar terreno na Câmara dos Representantes
As aspirações dos democratas para a Câmara dos Representantes caíram, mas a noite ainda lhes pode correr bem.
Nas eleições desta terça-feira, os votos dos norte-americanos não irão eleger apenas o próximo Presidente. Vão a votos também 34 dos 100 lugares no Senado (os mandatos para o Senado têm a duração de seis anos) e os 435 lugares da Câmara de Representantes — e é destes que se trata neste artigo.
Há larga margem para se poder afirmar que os democratas não vão reconquistar a maioria na Câmara dos Representantes e pintar de azul os 30 lugares do Partido Republicano na terça-feira. Mas certamente irão fazer mossa na maioria republicana. A principal pergunta é: quão grande? Em princípio, os Democratas podem conquistar entre 5 a 20 lugares.
De acordo com o índice eleitoral do The Washington Post relativo à Câmara, recentemente actualizado, apenas 49 de 435 distritos eleitorais irão assistir a uma disputa acesa pela vitória. Os Democratas não têm conseguido criar oportunidades — com algumas excepções dignas de nota — e a campanha não os tem favorecido muito nas últimas semanas.
É a prova de que os Democratas estão a passar por dificuldades num ambiente político complicado. Estão a defender 26 distritos ganhos pelo Presidente Barack Obama duas vezes. Até porque não parece que a estratégia democrata de caracterizar os Republicanos como mini-Trumps esteja a ser bem recebida pelos eleitores.
Neste momento, para ganharem uma maioria, os Democratas teriam de vencer em 36 dos 49 distritos decisivos. O que significaria vencer em todos os distritos com “tendência Democrata” e em todos os distritos onde não é possível prever um vencedor, assim como em 9 de 22 distritos de “tendência Republicana”.
Posto isto, mesmo que os Democratas vençam apenas em metade dos distritos indecisos, conquistam 13 lugares e reduzem para metade a maioria Republicana. Por outras palavras: a noite ainda pode correr bem para os Democratas. Actualmente, 9 dos 10 distritos com maior probabilidade de mudar de cor são Republicanos.
Estes são os 10 lugares para a Câmara de Representantes onde a corrida está mais acesa:
19.º lugar de Nova Iorque, EM ABERTO, Republicano. Este lugar do Hudson Valley é o melhor exemplo de um distrito decisivo. Zephyr Teachout, professora de direito Democrata e progressiva, apresenta-se com uma forte campanha aparecendo em artigos de destaque na New York Magazine, por exemplo. Já o ex-líder da minoria na Assembleia de Nova Iorque, o Republicano John Faso, tem tido dificuldades em passar uma mensagem clara que convença os eleitores. Mas as sondagens não dão grande vantagem a nenhum dos dois e Zephyr Teachout precisa do voto dos eleitores mais jovens e com menos rendimentos, o que nunca é uma aposta segura.
2.º lugar de Maine, Representante Bruce Poliquin, Republicano. A antiga senadora Democrata, Emily Cain, quer a desforra com Bruce Poliquin, que em 2014 teve um resultado inesperado. Mas a senadora está à altura do desafio. Bruce Poliquin foge às perguntas dos jornalistas sobre o seu apoio a Donald Trump. E Emily Cain parece ter superado a vantagem de dois dígitos de Bruce Poliquin. Uma sondagem recente do October Portland Press Herald/Maine Sunday Telegram colocava Cain com vantagem de 2 pontos, ou seja, dentro da margem de erro. Uma curiosidade: estas são as eleições para a Câmara dos Representantes mais caras da história dos Estados Unidos, com despesas superiores a 12 milhões de dólares. Um estudo da Wesleyan Media Project revelou uma média de 333 anúncios por dia entre 16 de Setembro e 13 de Outubro!
7.º lugar da Flórida, John Mica, Republicano. Por causa da redistribuição distrital, John Mica (eleito pela primeira vez em 1993) depara-se com a sua primeira eleição renhida em décadas e a falta de treino pode estar a sair-lhe caro. “Alto Congressista Republicano descontraído com possível derrota” lia-se no título de uma recente história do Politico sobre a atitude demasiado descontraída de John Mica em relação a uma corrida eleitoral que se prepara para ser das mais renhidas. A sua oponente é Stephanie Murphy, uma mãe de 38 anos e filha de emigrantes vietnamitas. O Partido Republicano interveio há duas semanas para ajudar John Mica a vencer neste distrito de Orlando, mas não vai ser fácil.
5.º lugar de Nova Jérsei, Representante Scott Garrett. Outro veterano Republicano de repente em apuros. Mas como o Cook Political Report lembra, Scott Garrett só se pode culpar a ele próprio. Se perder para Josh Gottheimer, publicitário da Microsoft, os analistas, irão logo relembrar os seus comentários neste Verão. Ele recusou-se a contribuir para a campanha Republicana por pensar que o comité apoiava candidatos gay. Os Democratas abordaram este comentário com muito pouca subtileza: pagaram por uma faixa a sobrevoar a cidade que o chamava de intolerante — e o comité da campanha Republicana não gastou um cêntimo para o ajudar.
18.º lugar da Flórida, EM ABERTO, Democrata. Esta pode ser as eleições mais renhidas por um lugar detido pelos Democratas; ainda que esteja longe de ser o único lugar com potencial para ser conquistado pelos Republicanos. Os Republicanos estão a tentar conquistar à força o antigo lugar do Representante Patrick Murphy, que agora concorre para o Senado. É um distrito com uma pequena tendência Republicana e têm um candidato dinâmico: o veterano da Guerra do Afeganistão, Brian Mast. Randy Perkins, empresário Democrata, está a financiar a sua campanha na totalidade. Pediu aos Democratas de Washington para se afastarem da sua campanha. Mas alguns dos ataques a Brian Mast foram constrangedores, na melhor das hipóteses, e ofensivos, na pior. Recentemente, disse a Brian Mast, um duplo amputado da guerra, para “se fazer homem e defender o que diz”.
2.º lugar de Minnesota, EM ABERTO, Republicano. O Representante Republicano John Kline vai aposentar-se após mais de uma década neste lugar. E John Kline não está claramente satisfeito com o seu potencial sucessor, Jason Lewis, o apresentador de rádio sem papas na língua que disse que as mulheres jovens e solteiras “não tinham cabeça”, questionou a necessidade de se ter combatido na Guerra Civil e disse que a “população branca” está a “cometer suicídio político e cultural”. Os Democratas afirmam que a directora hospitalar Angela Craig, Democrata, está a angariar o dinheiro necessário para conquistar este distrito com uma ligeira tendência Republicana. Mas como Simone Pathé do Roll Call noticiou em detalhe, Lewis mantém esta corrida mais renhida do que era esperado.
1.º lugar de New Hampshire, Representante Frank Guinta, Republicano. No ano passado sofreu um golpe pesado quando admitiu ter recebido contribuições ilegais dos seus pais para a campanha. Mas Frank Guinta conseguiu, de alguma forma, chegar às primárias para o quarto combate consecutivo contra Carol Shea-Porter, ex-congressista Democrata, por quem os eleitores também não morrem de amores. Mas os ventos de Washington parecem soprar na direcção de Carol Shea-Porter: os Democratas cancelaram o orçamento planeado para publicidade após uma sondagem ter-lhe dado uma vantagem de 10 pontos. Umas semanas depois, foi a vez de os Republicanos cancelarem os seus anúncios, dando a entender que este lugar estava perdido.
4.º lugar do Nevada, Representante Cresent Hardy, Republicano. Quando Cresent Hardy conquistou uma surpreendente vitória em 2014, os Democratas iniciaram a contagem decrescente até Novembro de 2016 para o poderem tirar do lugar. Nomearam um dos candidatos mais sofisticados, Ruben Kihuen, senador Democrata. Mas os Republicanos não ficam por aqui: a média das sondagens do Real Clear Politics mostra que Donald Trump ainda tem uma ligeira vantagem neste estado indeciso, com tendência para o voto libertário. Ao mesmo tempo, a votação antecipada parece estar a favorecer os Democratas e se Donald Trump tiver dificuldades aqui, Cresent Hardy estará provavelmente fora da corrida.
10.º lugar de Illinois, Representante Bob Dold, Republicano. Já o dissemos antes e voltamos a dizer: Bob Dold é um dos Republicanos que pode fazer tudo à risca e ainda assim perder. O seu lugar nos subúrbios do Norte de Chicago é um dos distritos mais Democratas detidos por Republicanos nestas eleições e Bob Dold afirmou que nunca apoiaria Donald Trump. O antigo congressista Democrata, Brad Schneider, que foi derrotado por Bob Dold em 2014, quer o lugar de volta. Considerando a dinâmica deste distrito e a elevada popularidade de Hillary Clinton neste estado, Schneider tem boas hipóteses.
13.º lugar da Flórida, Representante David Jolly, Republicano. Esta é das poucas eleições na nossa lista que se mantém inalterada há meses. David Jolly enfrenta um dos rostos mais conhecidos da política na Florida, o antigo governador Charlie Crist. Um Republicano que se tornou Independente e mais tarde Democrata, que se candidatou e perdeu duas eleições neste estado nos últimos quatro anos e que agora se candidata através do distrito eleitoral de onde é natural. E os Democratas parecem estar à frente. Uma sondagem recente colocava Charlie Crist com uma vantagem de 3 pontos, mas Donald Trump e Hillary Clinton estão empatados neste estado. Poderemos ter eleições até ao fim.
Exclusivo PÚBLICO/Washington Post