A eficácia da "cannabis" para fins medicinais já é conhecida e reconhecida em muitos países. Agora, também os animais estão a beneficiar dos componentes desta planta. As linhas de produtos com marijuana fabricadas especificamente para animais prometem combater dores, ansiedade e inflamações, entre outros incómodos que podem atrapalhar a qualidade de vida.
Lisa Mastramico, directora de uma rede de televisão de Long Beach, na Califórnia, resolveu dar a experimentar marijuana à sua gata, Little Kitty, após a ineficácia de vários suplementos, declara ao "The New York Times". A gata tinha 12 anos e uma artrite que a fazia ficar cada vez mais isolada. Lisa demorou até aceitar a ideia, mas decidiu arriscar. Com uma licença para o uso de marijuana medicinal, comprou dois óleos comestíveis derivados de "cannabis" feitos especificamente para animais e deu a Little Kitty. "Quando lhe dou marijuana, ela nunca fica 'pedrada'", ressalta a directora. "Sai para brincar, quer ficar no colo e ser acariciada. É uma diferença notável."
Lisa não é a única a partilhar desta opinião. Maria Ellis Perez, moradora de Pompano Beach, na Flórida, tem uma gambá domesticada chamada Ricochet: com 12 anos, é manca e tem cataratas. Com o avançar da doença, Ricochet escondia-se e não queria comer. Foram biscoitos de cânhamo — uma das variedades de "cannabis" — que a ajudaram. Depois de alguns dias a ingeri-las, relata Maria ao jornal norte-americano, "ela [Ricochet] virava a cabeça e olhava com o olho bom e aparecia para o pequeno-almoço".
Embora já existam muitos produtos para animais de estimação fabricados com marijuana e utilizados em gatos, cães, porcos, cavalos e animais selvagens domesticados, este tipo de tratamento não foi aprovado pelos órgãos reguladores. Um dos argumentos usado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos é a falta de investigações que comprovem a sua eficácia. Por isso, os veterinários não podem receitar produtos com "cannabis", mesmo que os donos os aprovem.
A opção para quem defende este tipo de tratamento é procurar sítios onde a marijuana medicinal é permitida, como fez Cate Norton, de Springfield, no Vermont. A funcionária de um centro de resgate de animais confessa levar os dois "rottweilers", Ruby e Leia, a um veterinário em Hanover, New Hampshire. "O meu veterinário gostava de usar, mas não pode tocar nisso", diz. Norton trata as tonturas e a ansiedade de Leia com um produto baseado em "cannabis", o Canna-Pet.
É preciso alertar aos donos dos animais que marijuana receitada de forma incorrecta pode ser prejudicial. Actualmente, contudo, crescem os relatos sobre cães e gatos que ingeriram "cannabis" e foram levados, em estado grave, para os veterinários. Nos Estados Unidos, por exemplo, a legalização da marijuana em vários estados pode ter implicado um aumento destes casos: os donos costumam ter a planta em casa, para uso próprio, e os animais acabam por consumir, ao encontrá-la.
A "cannabis" é composta por dezenas de canabinóides, entre eles o tetrahidrocanabinol (TCH) e o canabidiol (CBD). O primeiro, com propriedades psicoactivas, é responsável pelo sentimento de êxtase e altamente tóxico para os animais. Já o segundo, o CBD, oferece os benefícios sem as desvantagens. O cânhamo industrial, utilizado para fabricar tecidos e papel, está presente em produtos para animais porque os seus níveis de THC são quase nulos, lê-se no "The New York Times".