A Anita e a Cristina Vinhas (em Macau)
Tive a oportunidade de conversar com alguns criativos portugueses que se sediaram em Macau, que tanto tem de familiar com o nosso querido país. A Cristina Vinhas é artista e dá formação de Joalharia
Macau é, sem qualquer dúvida, uma fonte de inspiração para uma mente criativa. Toda a envolvência multicultural de contrastes é sedução visual, ali como que intencionalmente predisposta para nos impulsionar a criar e a transformar o que vemos, elevando ao palpável o que nos inspira a alma. Pura poesia. É isso que Cristina Vinhas faz com mãos dedicadas de quem descobriu que o que a apaixonava visualmente era o que pretendia para o futuro da sua carreira.
A convite do Turismo de Macau tive a oportunidade de conversar com alguns criativos portugueses que se sediaram naquela península do outro lado do mundo, que tanto tem de familiar com o nosso querido país. Na companhia do Gonçalo e de outros convidados especiais do Turismo de Macau fomos até ao norte da cidade, na zona de proximidade com a fronteira entre Macau e a cidade vizinha chinesa de Zhihau, à Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau onde já me esperava a Cristina, num atelier do 8º andar.
“Através da implementação e diversidade das atividades e cursos que promove, a Casa de Portugal em Macau aposta no desenvolvimento pessoal e na formação técnica e criativa dos seus participantes. Os cursos anuais são dirigidos a todas as idades e preenchem necessidades de criatividade e formação contínua da população de Macau.”
É ali que Cristina dá formação de joalharia a adultos e a alunos da primária e secundária, em inglês, mas também onde cria as suas coleções e peças de arte, explorando o reaproveitamento e a recriação da utilidade de materiais diversos como casulos do bicho da seda, vidro, ouro e prata, metais e madeira, pedras, cortiça e acrílico, maioritariamente adquiridos na China, à exceção dos casulos que trouxe da Tailândia e a cortiça adquirida em Macau, resultado da importação de vários produtos portugueses.
Nascida em Vila do Conde, formada em Joalharia na CINDOR – Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria em Portugal, vive em Macau desde 2007 onde tem desenvolvido a sua carreira artística como joalheira, e mais recentemente como artista plástica. Esta mudança proporcionou-lhe uma oportunidade para impulsionar a sua carreira e desde 2010 que as suas peças estão à venda na Loja Museu de Arte Macau.
À medida que me mostra “os cantos à casa” faz surgir de cada armário e prateleira várias peças que me mostra de forma muito maternal, filhas de várias exposições das quais me vai falando humildemente — o Festival da Lusofonia ou o Arraial de São João em Macau são duas presenças que garante anualmente desde que para ali se mudou, por exemplo — e ao mesmo tempo que acarinha as peças cuidadosamente entre mãos, explica como esteticamente sente que evoluiu de forma não condicionada, fluída e espontânea, com uma evidente inspiração no oriente – na sua geografia e na sua natureza (como a folha da flor de lótus e o bambu).
É evidente a dedicação aos seus alunos e a gratidão que expressa por aquela casa que a acolheu e onde tem oportunidade de lecionar. “Gratificante!”, afirma. É na sala-oficina onde várias mesas estão preparadas para trabalhar esta arte, que expõe o orgulho que tem nos seus alunos e admite que a precisão chinesa é uma mais valia na produtividade das suas aulas e o sucesso das suas alunas uma recompensa pelo seu esforço.
Quando lhe pergunto sobre como se equilibra uma carreira artística individual com a docência, descreve sorridente este desafio sempre com referências à honra que sente em ver crescer os seus alunos a sua individualidade artística, à necessária persistência em prosseguir com as suas criações a altas horas da noite e às projeções futuras no mercado da joalharia contemporânea em Pequim ou Shanghai, nunca descartando a ideia de um dia voltar a Portugal.
“E as saudades?”. As saudades ultrapassam-se pelas várias referências portuguesas em Macau e pela mais valia da tecnologia, mas nunca se matam. Mas esta é uma das nossas características como portugueses, não é? Seja qual for a parte do mundo onde estejamos, somos saudosistas do que já tivemos e do que podemos ainda vir a ter. É isso que nos torna sensíveis às diferenças, à mudança e à transformação.
Agora deste lado do mundo, tenho a certeza que vou aguardar pela oportunidade de ver a próxima exposição da Cristina, seja por terra lusa ou por terras do outro lado do mundo, das quais já sinto saudade.