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A violência do Estado tirou o olho a um fotógrafo
Ao sair para trabalhar, o fotógrafo Sérgio Silva perdeu um olho. A história deste brasileiro de 31 anos começa no dia 13 de Junho de 2013, na cidade de São Paulo, durante uma manifestação contra o aumento dos preços das viagens de autocarro. Policias da força táctica paulista armados com pistolas de balas de borracha e escudos posicionavam-se para conter o avanço dos manifestantes a qualquer custo. Sérgio estava no cruzamento da Rua da Consolação com a Rua Caio Prado a registar o protesto, quando, por um momento, baixou a máquina fotográfica para conferir o último clique e foi atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha disparada pela polícia. Três anos depois, o fotógrafo foi obrigado a ouvir do juiz Olavo Zampol Júnior, responsável pelo seu processo contra o Estado de São Paulo, que a culpa era dele, pois “ao colocar-se na linha de confronto entre a polícia e os manifestantes, voluntária e conscientemente, assumiu o risco de ser alvejado por alguns dos grupos em confronto". E mais, a Procuradora Geral do Estado de São Paulo, encarregue da defesa do Governo, alegou que o fotógrafo não precisa dos dois olhos para o trabalho, “ao contrário, procura fechar um dos olhos quando mira o alvo da fotografia". O facto de Sérgio ter sido declarado culpado pela justiça por ter perdido a própria visão desencadeou um protesto no local onde em 2013 o mesmo foi alvejado. Um grupo invadiu à rua, colou uma foto de Sérgio no asfalto e espalhou tinta vermelha sobre o olho esquerdo da imagem e ao redor. Em poucos minutos, ao abrir o sinaleiro e com o passar dos pneus dos carros, a mancha vermelha espalhou-se não só pelo papel, mas por toda rua. O vídeo Olho da Rua, publicado no Mídia Ninja, na última quinta-feira, dia 6, é, segundo os seus autores, um memorial. “Esta obra, assim como o olho, não teve hipótese”. O olho de Sérgio perdeu-se. Esta fotografia gigante também.