Não há recordes imbatíveis. Ou há?
O atletismo tem algumas das marcas com maior longevidade no desporto. Mas há casos, como a maratona masculina, em que os recordes caem ano após ano.
Pawel Fajdek enfrenta um recorde mundial cinco anos mais velho que ele próprio. O polaco de 27 anos é o detentor da melhor marca do ano no lançamento de martelo, 81.87 metros — bem longe dos 86.74 alcançados pelo soviético Iuri Sedykh, em 1986. Com 32 anos, este é o recorde com mais longa vigência entre as disciplinas masculinas do atletismo mundial.
É notório que há marcas absolutas mais difíceis de quebrar. Entre os homens, os lançamentos e os saltos mantêm recordes com mais de duas décadas, com a excepção do salto à vara. Durante 29 anos, a melhor marca, 6.15 metros, pertenceu ao lendário Sergei Bubka que entre os anos 1980 e 1990 dominou a modalidade — o atleta ucraniano detém os restantes nove melhores resultados de sempre.
Mas em Fevereiro de 2014, o francês Renaud Lavillenie, actual campeão olímpico, derrubou por um centímetro o recorde de Bubka, ironicamente num meeting de pista coberta em Donetsk, na Ucrânia.
O segundo recorde masculino com maior longevidade pertence ao alemão Jurgen Schult, campeão olímpico do lançamento do disco pela Alemanha de Leste em Seul 1988. Dois anos antes, Schult tinha superado a barreira dos 74 metros, que se mantém inviolável até hoje. O polaco Piotr Malachowski, detentor das melhores marcas dos últimos anos, e o alemão Robert Harting, campeão olímpico em Londres, são os favoritos para derrubar o recorde de Schult.
O recorde do salto em comprimento demorou 23 anos a ser batido pelo norte-americano Mike Powell, com 8.95 metros, e mantém-se há já 25 anos. Apesar de deter um dos recordes mais imbatíveis no atletismo, Powell nunca foi além da medalha de prata em Jogos Olímpicos (Seul 1988 e Barcelona 1992).
A disciplina de corrida com o recorde mais longo em vigor são os 400 metros com barreiras e pertence desde 1992 ao norte-americano Kevin Young, que durante os Jogos Olímpicos de Barcelona conseguiu fazer o tempo de 46.78 segundos.
Entre as modalidades com recordes mais precários destaca-se a maratona masculina, cujo melhor tempo tem sido batido quase ano após ano. O queniano Dennis Kimetto correu os 42,195 quilómetros da mítica prova em quase duas horas e três minutos na Maratona de Berlim, a 28 de Setembro de 2014. O recorde anterior, do seu compatriota Wilson Kipsang alcançado também em Berlim, estava a um dia de cumprir o primeiro aniversário.
Curiosamente, os recordes mundiais daquela que é considerada a prova rainha dos Jogos Olímpicos têm resistido às prestações dos participantes — a última vez que a melhor marca mundial foi batida nuns Jogos foi em 1964, em Tóquio. Por outro lado, a Maratona de Berlim parece ser um palco privilegiado para obter marcas mundiais, com os seis últimos recordes a serem alcançados nesse evento.
Recordista fora dos Jogos
É no atletismo feminino que o recorde há mais tempo em vigor se mantém. Em 1983, a checoslovaca Jarmila Kratochvílová correu os 800 metros em 1:53.28 minutos, menos de dois centésimos que a anterior marca. Desde que foi atingida, há 33 anos, apenas a queniana Pamela Jelimo, em 2008, se aproximou menos de um segundo do recorde. No mesmo ano, Kratochvílová bateu o recorde dos 400 metros, mas acabou por ser batida em 1985 pela alemã Marita Koch — cuja marca ainda se mantém e é a terceira mais longa no atletismo feminino.
Ao contrário do que acontece no atletismo masculino, não se nota a divisão entre disciplinas de corrida e técnicas no que toca à resistência dos recordes femininos. O recorde do lançamento do martelo, por exemplo, foi alcançado pela polaca Anita Wlodarczyk há cerca de um ano, tornando-se na primeira atleta a superar os 81 metros.
O recorde mundial mais fresco ainda não celebrou o primeiro mês e pertence à norte-americana Kendra Harrison nos 100 metros com barreiras. A anterior marca tinha já 30 anos quando a 22 de Julho a jovem baixou o anterior tempo em um milésimo de segundo. A grande ironia é que, semanas antes, Harrison tinha falhado os mínimos para integrar a equipa olímpica.