As eleições espanholas começaram bem e acabaram mal. Muito se expeculava sobre a coligação Unidos Podemos, mas na realidade esta não conseguiu alcançar o desejado. A “geringonça lá de fora” não se conseguiu formar, contariamente ao que aconteceu em Portugal.
Sánchez e Iglesias derrotaram, literalmente, qualquer sondagem, ficando-se pela terceira maior força Espanhola. Espanha vive constantemente com o velho bipartidarismo, entre o PP e o PSOE. Podendo este ano ter mudado o rumo político do país, estes não conseguiram abrir espaço a uma nova forma de fazer política.
O PP ascendeu mais uma vez, embora sem maioria absoluta, comprovando que os partidos neoliberais continuam a ganhar terreno nesta (farsa) União Europeia.
É importante perceber que o Unidos Podemos saiu bastante fragilizado destas eleições.
A vivência política de uma união de esquerda no Governo caiu por terra. Deixar Pablo Iglesias cometer um erro crasso, seria esta coligação unir-se ao PSOE, no futuro, para construção de governo.
A coliagação tinha em mãos um momento histórico, e a esperança no mesmo era muita. Contudo, o Podemos, neste contexto real, dispõe de pouca margem de manobra, a não ser que não se mantenha “fiel” à sua orientação política.
O Podemos construiu em dois anos uma obra notável apesar de ter uma fraca estrutura consolidada na sociedade. Contudo, após a coligação, a maioria social não aumentou a olhos vistos, sendo esta logo uma representatividade do que poderia vir a acontecer nas eleições.
Um dos pontos importantes a realçar neste contexto das eleições espanholas é a votação por faixas etárias. A maior parte dos votos da coligação, Unidos Podemos, centra-se numa faixa etária abaixo dos 40 anos, tal semelhança também se deu no Brexit, e com o candidato Bernie Sanders.
A Europa necessitava mais um vez de ter um símbolo representativo de uma doutrina que se impusesse contra o autoritarismo e austeridade. Nesta Europa alinhada à direita política, este símbolo não conseguiu suplantar-se.
Precisamos de lutar para que a Europa veja que há casos em que a Esquerda reforça os seus movimentos baseados em maiorias sociais e lute pelas condições de base.
Vivemos num tempo de imobilismo, onde a Europa demarca e comprova, ainda mais agora com o “Brexit”, que não traz consigo o desenvolvimento social e económico, nem a proteção das leis fundamentais ou dos direitos sociais almejados.
Quer nas eleições espanholas, quer em outros governos e estados, a demarcação da direita é o mais assustador. Tal como no “Brexit” estamos perante uma dualidade visível. Assistimos aos discursos de Trump, Le Pen, Hollande, Cameron, Bernie Sanders. Discursos que precisam claramente de ser percebidos e compreendidos neste seio.
Primeiro o crescimento real de um discurso de apelo de uma direita radical, baseado na anti-imigração, num discurso xenófobo, que só tem por base uma energética palavra, o medo. Estes funcionam como conectores, como desestabilizadores, como falsas demagogias.
Depois temos uma esquerda, que não pode deixar que este discurso se sobrevalorize, pois tem que ganhar apoio e representatividade social. É neste discurso que entra a explicação do projeto fracassado da Europa, da maquineta paralítica que deixa imigrantes morrerem, que impõe programas económicos e políticos, que desprotege socialmente os cidadãos, que gera desemprego, emigração.
Quer nas eleições espanholas, quer no “Brexit”, o voto do “medo” vence. A Europa não tem uma solução global e é isso que passa. É necessário aprofundar a democracia.
Isto é um ensinamento para toda essa Europa fora.