Um dia seremos um país sem aldeias

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Há menos de duas dúzias de habitantes na pequena aldeia de Póvoa de Agrações, em Chaves, num Portugal interior que às vezes se esquece de ser país. É uma imagem desoladora — para quem lá vive, paredes meias com a solidão, e para quem por lá passa. Não é um cenário incomum. O isolamento das populações de várias aldeias do interior de Portugal cresce há décadas. Em Póvoa de Agrações, não há lojas e o camião do supermercado passa uma vez por semana. Para ir ao médico, a quilómetros de distância, os idosos partilham táxis. António Gonçalves Fontes vive com a mulher Maria. Plantam vegetais, têm um pequeno rebanho e cinco burros. Com 62 anos, é dos mais jovens da zona e já se conformou com a ausência de futuro: "As minhas filhas não vêm viver para aqui, por isso a minha terra vai desaparecer", disse à Reuters. A emigração para a França e Suíça, o desemprego ou o emprego mal pago e as taxas de natalidade perto de zero roubaram três quartos da população de Agrações nas últimas décadas. Mas a situação pode piorar, alertou Luís Ramos Leite, presidente da Comissão Política de Concelhia do PSD em Vila Real: dois terços do território português podem ficar despovoados, criando um declive da actividade económica e um agravamento das já difíceis condições de vida destas populações. É uma "lenta agonia" aquela pela qual as pequenas aldeias estão a passar, comentou à Reuters: "A nossa batalha tem de se concentrar à volta das sedes de distrito e algumas aldeias maiores, onde ainda é possível parar o processo [de perda de população] e revertê-lo."