Media - como e para quê?
Que estratégias seguir se queremos tirar o melhor proveito dessas mudanças?
1. A revolução digital trouxe um grande número de alterações aos media, quer na forma escrita quer na sua vertente mais moderna, o vídeo. Interessa-me aqui analisar uma delas: a Internet, que globalizou o espaço dos media e permitiu o acesso a todas as tipos de conteúdo nos smartphones, a qualquer hora e em qualquer lugar.
As implicações são imensas sobre todos os meios de comunicação social, mas também sobre todas as áreas de negócio, incluindo o dos conteúdos.
Que estratégias seguir se queremos tirar o melhor proveito dessas mudanças?
2. Em meados do século XX, numa situação tecnológica muito diversa, os media apareceram por iniciativa dos governos, com âmbito limitado aos habitantes dos respetivos estados. Sendo o investimento público, exigia-se que assumissem um conjunto de missões de serviço público. O lema mais conhecido foi inventado pela BBC no seu arranque ao estabelecer como objetivos: “informar, ensinar e entreter”.
Aos olhos do mundo atual estes objetivos são considerados paternalistas e já não parece razoável serem assegurados pelos governos, embora continuem a ser objetivos sociais relevantes. Precisam contudo de novas ideias que permitam a sua realização no mundo fragmentado, em que as funções de escolha são agora realizadas pelos cidadãos nos seus “browsers” e não pelos diretores dos canais como era inicialmente.
Mas bastam aqueles 3 objetivos? Não! A presença dos media no mercado global faz com que tenham igualmente de ser considerados um instrumento ao nosso alcance para a afirmação do nosso país e da nossa cultura no espaço digital, podendo ser um poderoso elemento de diferenciação, nesta época de competição ao nível global. Estamos na sociedade de informação e um país necessita de ter um setor cultural e um sector criativo fortes. Uma grande dinâmica na net é sinal de capacidade e importante elemento de atração.
3. Para isso acontecer temos claramente 2 problemas: falta de financiamento e excessiva fragmentação dos possíveis agentes, não integrados numa estratégia coletiva. Existe financiamento dos canais de tv generalistas para produção de conteúdos essencialmente destinados ao mercado interno e em formatos pouco compatíveis com os que interessam na net e captam as novas gerações. Mais difícil é financiar novos tipos de conteúdos para a Web ou a criação de agregadores de conteúdos representativos do nosso património cultural, que tão relevantes poderiam ser no espaço global, pois são essenciais para permitir que os cidadãos realizem atividades de seleção e recomendação, usando as redes sociais.
Para combater a fragmentação há que lançar projetos mobilizadores incluindo espaços de interação entre criativos, homens de negócio e tecnólogos, animados por estratégias de ação conjunta de busca de financiamento e de experimentação de novos negócios para os mercados internacionais, explorando parcerias existentes (eg NEM Portugal) e procurando outras, nacionais e internacionais, para dar impulso à grande criatividade que se deteta em startups e pequenas iniciativas culturais do tipo empresarial. Sigamos o bom exemplo do “Made in New York Media Center”, esperando que os programas de apoio à inovação sejam mais abertos ao financiamento de conteúdos inovadores.
Prof. Emérito da Universidade do Porto, consultor Sénior do INESC TEC, Director do NEM Portugal