Casa da Música
Peaches, um concerto dela também é sexo
Lembram-se do Celorico de Basto Dance Festival (CBT), das suas tendas insufladas, do fogo que passeava assustador pelas encostas? Na edição desse ano, precisamente em 2003, o CBT oferecia um vendaval de contemporaneidade electrónica sem precedentes: Felix da Housecat, Ladytron ou Herbert, acompanhado pela voz de Dani Siciliano, e a sua orquestra, capaz de alinhar a melodia de um oboé com o som das páginas da revista "Caras" a serem rasgadas em palco. Pois bem, essas não são as memórias mais perenes. A estreia de Peaches em Portugal não poderia ter tido uma escolha mais apropriada. Sozinha em palco, a canadiana incendiou a tenda e uma plateia surpreendida e boquiaberta com um furacão feminino e sexualmente provocador, que rompia com a inócua e estática postura da música electrónica em palco. Como se o electro fosse coisa de meninos e meninas bem comportadas. Nestes treze anos, a canadiana criou uma carreira coerente e voltou várias vezes aos palcos nacionais com a mesma fúria de sempre, embora se tenha perdido algo da surpresa e virgindade inicial. "Rub", último disco de originais de Peaches, não contém a insolência e a energia de "Fatherfucker", por exemplo, mas mantém acesa a livre expressão de uma cantora incómoda. Na Casa da Música, na noite deste sábado, não foi muito diferente: houve licenciosidade, duas bailarinas de dildos e vestes BDSM, fatos peludos cor-de-rosa e chapéus em forma de vulva, biquínis e champanhe. Um concerto de Peaches também é sexo. Façam o favor de entrar nesta galeria da autoria de Paulo Pimenta.