Enquanto escrevo estas linhas, está a decorrer, mais uma campanha de "crowdfunding" para um videojogo português, com o objectivo de acelerar o seu desenvolvimento. Escrevo sobre “Sebastian Frank: The Beer Hall Putsch”, uma aventura gráfica passada na Europa do século passado.
Sem dúvida alguma, o "crowdfunding" continua a ser uma das alternativas ao apoio de um projecto em fase de construção. Infelizmente, têm sido poucos os videojogos portugueses aprovados. Talvez, um dos maiores exemplos seja “Hush”, da GS78, que teve duas campanhas — uma no Indiegogo em 2014, e outra no Kickstarter, em 2015. Ambas goradas. Mas, mesmo com o fiasco da campanha, há sempre algo a aprender. Segundo Rogério Ribeiro, co-fundador da GS78, o Indiegogo, é um óptimo local para livros, filmes, aparelhos, mas, não para jogos. No entanto, quando o projecto esteve neste site, serviu de press-release internacional, que de certa forma, contribuiu para espalhar o nome de “Hush” um pouco por todo o planeta.
Noutro caso, igualmente português, Tiago Loureiro, conhecido programador da nossa indústria, já esteve envolvido em três campanhas de "crowdfunding". A primeira gorada, a segunda um sucesso, e na terceira, para "Between me and the Night", quando Loureiro pensava que tinha descoberto a formula mágica, foi novamente um fiasco — o que só prova, que existe algo mais por detrás do sucesso de um crowdfunding.
A verdade é que há “alguma magia negra” envolvida no sucesso de um Kickstarter. Claro que não basta a sabedoria popular, composta por: mostrar um “bom” trailer, criar “boas” ofertas para o apoiante, ter já uma “boa” demo, mostrar “bem” para onde vai o dinheiro, ter uma “boa” experiência na indústria, ou ter uma “boa” figura popular por detrás de tudo. Tudo isto é “bom”. Mas, não é o suficiente.
Há uns meses, contactei várias das agências, vamos chamar-lhes “mágicas”, para saber o que é preciso para tornar o “meu projecto de Kickstarter, um sucesso”. Claro que muitas não quiseram falar sobre o processo sem primeiro entrar em negociações, mas tive a sorte de numa a pessoa que me respondeu ter reconhecido o meu nome, porque tinha uma cópia do meu livro, “Service Games: The fall and rise of Sega”. E isso abriu uma porta. Mesmo assim, pouco foi adiantado, afinal, o “segredo é a alma do negócio”. No entanto, a pessoa envolvida disse-me alguns pormenores que são a base para qualquer campanha. Dois meros exemplos: ter pelo menos, 10 mil seguidores no Twitter; ter um mínimo de 20% do capital que estamos a pedir, pronto para ser entregue ao Kickstarter... por vários amigos. Para que? Ora bem, para criar dinamismo na maquinaria. Afinal, ninguém apoia campanhas, em que só lá estejam meia-dúzia de euros, nas primeiras 24h. E estas, são as cruciais numa campanha. A somar a isto tudo, vem claro, o público português. Uma audiência, que segundo um inquérito feito há alguns meses, pelo conhecido site Bgamer, cerca de 70% dos inquiridos, não apoia projectos em "crowdfunding", sejam nacionais, ou internacionais. Não existe essa cultura entre nós. Por isso, o sucesso de uma campanha estará sempre inevitável dependente da “bondade internacional”.
Tudo isto escrito acima, é só para colocar em perspectiva o novo projecto português em "crowdfunding". O acima mencionado “Sebastian Frank: The Beer Hall Putsch”, cujo objectivo são a angariação de 30 mil euros. Sobre a campanha, a história do jogo e mais alguns pormenores, os meus colegas do Público, já escreveram sobre isso neste artigo, por isso, não vou adiantar muito. É simplesmente, uma aventura gráfica, passada no século passado, que acompanha indirectamente, o trajecto dum jovem Adolf Hitler, durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial. O conceito parece ser engraçado? Então joguem a demo (gratuita) e apoiem o projecto. Por vezes, dá a sensação, que os projectos portugueses de videojogos em "crowdfunding" assemelham-se aos pedintes urbanos. Afinal, quem tem a bondade de os auxiliar? Boa sorte “Sebastian Frank: The Beer Hall Putsch”!