Marlon James, o som e a fúria
O romance, que gira à volta de uma tentativa de assassínio de Bob Marley, é longo, barulhento, excessivo, cheio de ruídos e música – a música que capturou a colisão entre política a fome e o desespero da Jamaica dos 70s, A Brief History of Seven Killings valeu o Booker a Marlon James.
Há muito que Marlon James estava a chegar. E não aceita um “não” como resposta. Há dez anos, o romancista jamaicano, alto e com cabelo em dreadlocks, recebeu 78 cartas de rejeição de editores referentes ao seu primeiro romance, John Crow’s Devil, antes de uma pequena casa editora de Brooklyn (Nova Iorque) o ter aceitado. Sentado na sala de espera de uma feira de literatura em Vancouver (Canadá), antes de se dirigir para o palco e fazer uma leitura para quase mil pessoas, James abana a cabeça e espanta-se enquanto recorda aqueles tempos: “Ainda me lembro da última recusa que recebi”, diz. “Era um cartão-postal. Pensei: ‘A sério? Existe um cartão a dizer ‘não serve para nós’?”
O mundo não tinha reservado um lugar para um escritor como James. Ele teve que o criar por si próprio, e neste Outono alcançou exactamente esse objectivo, ao tornar-se no primeiro escritor jamaicano a vencer o prémio Man Booker Prize por A Brief History of Seven Killings, o seu vasto e abrangente docu-romance que gira à volta da falhada tentativa de assassínio de Bob Marley em Dezembro de 1976.
O romance assemelha-se a uma temporada da série policial The Wire passada em Kingston. Entre as mais de 70 personagens estão prisioneiros, raptores, mães, polícias, traficantes de estupefacientes, criminosos homossexuais, utilizadores de drogas duras com nomes como Funky Chicken e Bam-Bam, um agente da CIA, crianças abandonadas, os destroçados, os maus. “Que jornalista és tu que não queres saber a história que está por trás?”, pergunta um detido a um homem que o visita na prisão de Rikers Island.
Baseando-se em vários reportagens recentes bem como na sua própria imaginação, A Brief History of Seven Killings parece fazer a mesma pergunta: "Que país é este, e quem é o seu povo?" James apresenta a Jamaica na ressaca da independência, através da voz de mais de uma dúzia de narradores. Passando de Kingston no final dos anos 50 para Nova Iorque na década de 90, o livro descreve, entre outras coisas, guerras entre bandos rivais, as políticas militares da ilha, o envolvimento da CIA nestas últimas, o corrosivo tráfico de droga para Miami e Nova Iorque, e a angustiante confusão racial na Jamaica.
O livro é tão realista na representação das dinâmicas dos gangues, que a primeira impressão é de que James terá crescido no meio da violência que descreve. Mas isso seria um erro, e essa suposição não agrada a James. “Existe uma ideia de que um escritor de cor deve ser uma espécie de jornalista. As pessoas perguntam-me: ‘Como é que sabes isto? Como é consegues escrever isto?’ Querem dizer com talento e imaginação? Pesquisa? Nunca esquecerei um entrevistador que começou uma pergunta com: ‘Sendo alguém que através do poder da escrita sobreviveu à vida no gueto…’. Só lhe queria responder que, na realidade, tinha crescido numa família de classe média. Se querem saber como foi a minha vida suburbana, leiam o primeiro livro do Klaus Knausgaard.”
Primeiras experiências com o fracasso
Filho de um advogado e de uma mãe detective de polícia, James teve uma infância protegida e segura em Kingston. Apesar de a mãe trabalhar na polícia, nunca viu a pistola dela. “Por vezes esqueço-me de que provenho de uma família de polícias. Isto porque a minha mãe nunca levava o trabalho para casa. E certamente não levava a pistola dela para casa. É uma discussão que tenho com ela desde há muito tempo, estou sempre a dizer-lhe: ‘Por que é que és o único polícia na Jamaica sem uma arma?’. E ela respondia sempre: ‘Porque és o único que nunca a encontrou’.” James ri. “Meu Deus, o que eu procurei aquela arma, por todo o lado.”
O pai de James era um homem culto e reservado que lia Coleridge e Shakespeare e mandou os seus filhos para a Wolmer’s Boys School, a prestigiada escola que já diplomou 23 vencedores de bolsas de estudo Rhodes [para alunos não-britânicos estudarem na Universidade de Oxford], escritores, pelo menos um primeiro-ministro, e o actor Herry Belafonte. “A educação libertou-se nos anos 60 mas mantiveram-se as separações entre classes”, recorda James acerca desse período, e de como a sua família se integrava nesse mundo. “Assim, alguém como eu ir para a Wolmer’s quebrou as barreiras de classes. Eu tinha de apanhar dois autocarros para ir para a escola.”
A estrela de dance hall Sean Paul era um dos colegas de turma mais próximos de Marlon. Muito antes de começar a escrever, James trabalhou como director artístico de Sean Paul. “O Sean era dos subúrbios e eu também era dos subúrbios e na verdade éramos todos miúdos de classe média dos subúrbios. Não somos, sei lá, não somos autênticos tipos do reggae. Eu estava na área do design gráfico e o meu amigo Jeremy Harding era manager do Sean. Lembro-me de ir a uma festa e toda a gente se foi embora menos o Sean. O Sean estava algures num quarto das traseiras a escrever letras e eu disse, ‘Jeremy, é com aquele tipo que eu quero trabalhar’.”
James frequentou a Universidade das Índias Ocidentais, onde estudou Literatura, mas acabou por ganhar a vida durante mais de uma década no mundo da imagem e da música. Desenhou capas para discos de Sean Paul e fez produções fotográficas para a revista T, o suplemento de fim-de-semana do jornal The New York Times sobre artigos de luxo. Muitas vezes assistiu ao choque entre o lugar de onde vinha e o mundo mais vasto e os seus preconceitos. Recorda quando recebeu um cliente inglês que começou a falar lentamente para um grupo de colaboradores da sua agência de publicidade. “Eu disse, e bem alto para que todas as pessoas que estavam naquela mesa ouvissem: ’Hei, não é necessário falar devagar, os pretos conseguem perceber’”, relembra.
Experiências como esta começaram a pesar. James estava também a ler tudo aquilo a que conseguia deitar a mão. Por fim, começou a aproveitar os seus tempos livres para escrever o seu primeiro romance, John Crow’s Devil. Se a escrita demorou muito tempo, a rejeição demorou ainda mais. James pegou simplesmente num catálogo de endereços do mundo editorial e começou a contactar as editoras, uma a uma. Quando recebeu a sua septuagésima sétima rejeição, desistiu de escrever durante um ano. E talvez continuasse sem escrever se não se tivesse candidatado ao Calabash Workshop, um programa de escrita criativa organizado pelo popular festival de música jamaicano.
James não foi aceite no workshop de escrita avançada do programa, uma contrariedade que o aborreceu mas que veio a revelar-se um facto positivo. “Só os que estávamos na classe intermédia continuámos a escrever”, conta. “Talvez porque não tomámos o nosso talento como um dado adquirido.” Uma das suas formadoras, a romancista Kaylie Jones, convenceu-o a desenterrar a sua malograda novela e a voltar a trabalhar nela. James teve que escrever a um amigo que vivia em Londres a pedir uma cópia da obra, tal a forma completa como tinha removido da sua vida o manuscrito e o seu fracasso. “Se não fosse a Kaylie”, explica, “eu não estaria agora aqui. Ela obrigou-me a editá-lo, editá-lo, editá-lo…”
“Tive sorte”, diz-me ele, sentado a tomar o seu pequeno-almoço de papas e fruta no Hotel Wolseley em Londres, algumas semanas depois do nosso primeiro encontro. “Há uma geração de escritores na Jamaica que não tiveram mentores.” Kaylie Jones tornou-se não apenas na mentora e editora de James, mas também a sua chefe de claque após ele finalmente reenviado John Crow’s Devil para o mercado, e a Akashic Books em Brooklyn o ter aceite. O romance, uma lírica história de dois pastores rivais na Jamaica nos anos 50, não era um livro fácil, mas recebeu boas críticas e acabou por ter lugar nas listas finais para vários prémios, numa altura em que James já se tinha mudado para os Estados Unidos e estava a estudar escrita criativa na Wilkes University na Pensilvânia. Era um estudante pouco habitual: um homem na casa dos trinta com um romance já escrito e uma carreira profissional para trás. Mas James aproveitou ao máximo este período, e utilizou esse tempo para terminar o seu segundo livro, o vasto Book of Night Women – um romance histórico localizado numa plantação de açúcar em que um grupo de escravas planeia uma revolta.
O romance levou a que James conseguisse o seu primeiro editor de renome, e foi finalista do prémio National Book Critics Circle. Mas James sabia que não iria vencer. “Eu era a única pessoa que sabia que eu ia ganhar”, escreveu recentemente na sua página do Facebook. “Olhei para o vencedor e olhei para os membros do júri e vi que todos seguiam exactamente a mesma estética. E até se pareciam fisicamente e a nível de visual. E logo ali percebi o que eles estavam à espera de encontrar num livro.”
James escreveu este post em resposta a um ensaio que a escritora norte-americana Claire Vaye Watkins havia publicado na revista literária Tin House sobre o tema da subserviência, um artigo no qual ela argumenta que percebeu que terá interiorizado o desejo agradar a homens brancos de uma certa idade no seu processo de escrita. A resposta de James afirmava essencialmente que os escritores negros também têm tido este género de subserviência desde o início da edição dos seus livros. Mais recentemente, argumentava, a subjugação metamorfoseou-se na noção de que os únicos leitores de livros de ficção são mulheres brancas já com uma certa idade e que querem um determinado tipo de livro.
“Existem imensos livros, incluindo os meus, que provam que esse argumento é ridículo. E não sei bem porque é que ele se aguenta. Mas temos mesmo isso – existe essa ideia de ‘leitora branca que quer uma cobertura açucarada em todos os seus comprimidos’.”
O som do pesadelo
Se as primeiras experiências de James com o fracasso apenas fortaleceram a sua decisão de não se submeter, A Brief History of Seven Killings tornou-se a sua tentativa de fazer explodir todas as coisas em que não se devia meter. O romance é longo, barulhento, excessivo e cheio de ruídos e música. Nos anos 70, mesmo quando Marley ainda era vivo, explica James, “o que se ouvia nas ruas não era Bob Marley. O que se ouvia era Big Youth, Dillinger, ouvia-se Mighty Diamonds e U Roy, esse género de jamaicanos precursores do hip-hop. E parte disso surge em Brief History of Seven Killings, o tipo de livre associação e improvisação que iria acontecer com o dance hall.”
Parte dos motivos pelos quais James queria escrever Brief History of Seven Killings era a vontade de incorporar na ficção o som dessa música e as histórias que ela contava. “Se vou escrever usando formas de falar e usando formas de falar jamaicanas, então escrevo sobre o processo com que os jamaicanos obtiveram as suas formas de falar”, declara. “E uma grande parte disso é a música e a cultura do dance hall. Porque penso que o reggae chegou lá primeiro em termos de usar a voz, utilizando o diálogo para falar sobre a condição humana de uma certa maneira… Quero dizer... eles realmente chegaram lá primeiro.”
Apesar de James ter nascido nos anos 70, só no rescaldo dessa década começou a inteirar-se do que se passara. Foi nos anos 70 que a explosão de alegria que envolveu a independência da Jamaica se transformou em pesadelo. Foi nos anos 70 que os Estados Unidos começaram a intrometer-se profundamente na política jamaicana. E foi nos anos 70 que a pobreza na ilha entrou num dos seus piores períodos. A música que capturava esta colisão entre política e fome e desespero era explosiva.
Para conseguir colocar esse som nas páginas, James fez algo que nenhum professor de escrita alguma vez aconselharia um aluno seu a fazer: escreveu-o enquanto tinha a Internet permanentemente ligada, navegando pela Web. “Este livro não foi escrito num local calmo. Escrevi-o em praticamente todos os cafés de Minneapolis. Escrevi-o em estações de comboios, escrevi-o quando estava em digressão de promoção de Night Women. Sabia que tinha que deixar entrar o máximo possível deste vasto mundo, por isso não quis deixar o mundo lá fora. Estava literalmente a alimentar-me de sons. Coisas que ouvia no autocarro, simplesmente anotava-as e passava-as. Assim, foi basicamente uma novela pública.”
Nos Estados Unidos, onde James continua a residir e onde é professor no Macalaster College, em Minneapolis, as críticas ao livro foram excelentes e louvavam o uso do vernáculo, os seus sons e os seus barulhos. Mas não foi isso que aconteceu no seu país de origem. “A maioria da objecções e dos medos, por exemplo, sobre eu utilizar tanto os dialectos locais, vem dos jamaicanos”, constata. “Ninguém ficou mais espantado por isto ter ganho o Booker Prize do que os jamaicanos que leram o livro. Eles até gostam, mas é muito cru e é muito grosseiro.”
James considera esta reacção como um sinal do passado colonial da Jamaica. “Temos milhares de tipos destes na Jamaica, que não conseguem largar modos muito vitorianos, mas que também nunca conseguiram aceitar que a Grã-Bretanha os tenha rejeitado. Alguns destes tipos lutaram na Segunda Guerra Mundial. E nunca conseguiram ultrapassar coisas como ver sinais a dizer ‘Proibida a entrada de irlandeses e negros’ e outras do género. Porque fomos criados a venerar a rainha e a nação. Quero dizer, legalmente ela ainda é a minha chefe do Estado. Se disser mal dela aqui, posso efectivamente ser julgado por traição. A mensagem de Natal dela deste ano vai passar às oito da manhã.”
Se o Reino Unido está à espera de um vencedor do Booker Prize que se mostre grato ao Império por o receber, podem bem ir esperando. Enquanto jamaicano, vê uma Inglaterra muito diferente daquela que muitas pessoas vêem. Observa que os edifícios no Centro de Londres foram construídos com base no trabalho de escravos das plantações de açúcar; vê que a riqueza de famílias daquela nação foi obtida com o suor dos jamaicanos. “A lata de David Cameron [primeiro- ministro britânico] para ir ao Parlamento da Jamaica e dizer aos jamaicanos que precisam de ultrapassar a questão da escravidão. Sabes, quando a escravidão foi supostamente abolida, tiveram que trabalhar mais quatro anos para conseguir dinheiro para dar aos Cameron, entre outras famílias. Para mim, é ‘a tua família tirou benefícios directos desta horrível instituição’, e para ainda piorar mais a situação vocês obrigaram-nos a trabalhar mais quatro anos e tiraram o seu salário para alimentar a tua estúpida família. E ainda tem a lata de aparecer por aqui e dizer ‘precisam de ultrapassar isso’… pelo amor de Deus.”
Ouvindo James a falar, com a sua dicção e os pontos de referência a oscilar de registo entre a erudição académica e o dito calão de rua, o escritor com que ele mais se parece não é Kaylie Jones ou mesmo, entre os seus compatriotas jamaicanos, Colin Channer. É Junot Diaz, o norte-americano polifonicamente dotado e vencedor do Pulitzer. São ambos extremamente empenhados em assuntos de justiça e dignidade, e essencialmente populistas nas suas crenças acerca de por quem e para quem a literatura deve falar. Para além disso, James assemelha-se com Diaz na forma como fala e soa, como um caribenho a viver à grande nos Estados Unidos, falando em códigos: ou seja, não me olhes de cima, porque eu li Marguerite Duras, e também não fales em calão comigo, porque eu venho de fora deste sistema de valores literários anglo-americanos.
“Eu estava sempre a mudar de registo”, explica James quando lhe aponto este facto. “Mesmo num nível de linguagem muito básico não falo assim com os meus amigos. Se viesses comigo a uma sessão de leitura numa [livraria] eu soaria assim, se fosses comigo para uma sessão de leitura no coração de Flatbush [zona de Brooklyn com predominância de emigrantes caribenhos] não iria soar assim em altura alguma da leitura. Nem sequer na sessão de perguntas e respostas. Isso é só numa coisa, ao nível da linguagem. Houve uma altura em que para uma certa sessão de leitura eu não vestiria estas calças jeans porque são muito apertadas. Só recentemente parei de inventar versões de mim mesmo para as diferentes áreas com que tenho de lidar.”
James está aqui a referir-se ao facto de apenas recentemente ter assumido publicamente a sua homossexualidade. Num artigo publicado no início deste ano no The New York Times explicou como numa ocasião foi para Nova Iorque com duas mudas de roupa diferentes, as que usaria na rua, as suas roupas de gay, e aquelas para que mudaria antes de apanhar o metropolitano para ir ter com a sua família no Bronx. O pai de James morreu de cancro antes de o artigo ser publicado mas a sua mãe ainda está viva e James estava preocupado com a possibilidade de ela, mesmo após ele ter ganho o Booker Prize, o deserdar. Ele soube que estava tudo bem quando no mês passado ela lhe telefonou de Londres e lhe cantou ao telefone do dia do aniversário dele.
Se alguém tivesse seguido a obra de James, teria ficado claro que ele se estava a revelar por fases. Um curto conto que escreveu e publicou em 2007 na colectânea Bronx Noir girava à volta de um prostituto gay, e dois dos principais gangsters em Brief History of Seven Killings são homossexuais, e não são apenas gay, ressalva James, são passivos nas relações sexuais gay. “Era eu de uma forma muito descarada [a jogar] com as percepções do que é masculino”, diz James, rindo. “Na Jamaica existe uma definição sempre muito extrema e muito caricatural da masculinidade heterossexual, apesar de isso estar a mudar. Porque se fores, por exemplo, a um dance hall – e desafio alguém a fazê-lo… Nem precisas de ir a um dance hall, vai ao YouTube e checka um qualquer grupo de dance hall masculino e tira o som e trauteia na tua cabeça Vogue [tema de Madonna]. Funciona! É muito floreado. É muito delicado. É homens a dançar com homens, todas aquelas mãos no ar a abanar para cima e para baixo.”
James diz que a ideia de que o conteúdo de Brief History of Seven Killing lhe tem dificultado o regresso à Jamaica é um pouco exagerada. Uma das suas preocupações agora é de que forma poderá avançar, não fazer aquilo que esperam que ele faça. “Eu e o Colum McCann uma vez fizemos um pacto sobre os romances que nunca escreveremos”, conta, divertido. “E acho que ambos dissemos que nunca escreveríamos um romance sobre emigrantes, apesar de provavelmente ele já ter quebrado essa promessa. Mais do que uma vez. Prometemos que nunca escreveríamos um romance sobre a vida universitária. Nunca escreveremos um romance sobre o ‘campus’ de uma universidade. Nunca escreveremos um romance sobre ritos de passagem para a idade adulta.”
“Mas ainda há coisas na Jamaica de que eu quero falar. Quero dizer, o conto que escrevi para [a colectânea] Kingston Noir, Immaculate, era sobre uma das coisas de que eu queria falar. Uma certa classe social da Jamaica que pode fazer tudo o que lhe apetece. Apesar de ir deixar de parte a Jamaica actual durante uns tempos, com o material sobre o qual vou escrever a seguir… Na realidade em princípio já sei sobre o que vai ser o próximo romance passado na actualidade. Em princípio já sei, e vai passar-se em Nova Iorque, por isso vou quebrar a minha regra de nunca escrever uma novela sobre emigrantes.”
E esse é provavelmente o maior triunfo na vida de Marlon James nos últimos tempos. Não o prémio ou a estatueta ou mesmo o seu dinheiro, que não mau em si, e sempre ajuda. É que agora ele pode definir as regras e também decidir quando as quebrar.
John Freeman é editor de “Freeman’s”, uma série de antologias literárias bianuais, e autor do livro Como Ler um Escritor (Tinta da China).