Quando se trata de política, já nos habituámos a esperar de tudo. O impensável é quase sempre alcançável. Eis que nos deparamos, em Portugal, com um guerrinha de gente que vive da política — não para a política — e decidiu juntar trapos e trouxas e avançar de bagagem em punho para uma batalha campal que se adivinha letal.
É que, na verdade, o cabecilha não convence. Aliás, é irremediavelmente proporcional ao “estado a que isto chegou”, como diria — provavelmente — Salgueiro Maia. O Partido Socialista perdeu as eleições com estrondo e, numa tentativa desesperada de alterar o rumo da conjuntura, negoceia um acordo com partidos políticos que defendem, em larga escala, uma política perfeitamente disruptiva daquela que os socialistas apresentam.
Não estamos a falar de um acordo para viabilizar um qualquer documento. Não, minhas senhoras e meus senhores. Estamos a falar de um acordo que visa construir uma maioria parlamentar capaz de governar um país. O nosso país. E quando olhamos para as três forças políticas encontramos tudo menos congruência e estabilidade. Não está em causa uma governação de Esquerda ou Direita, em Portugal. Assistimos a um golpe de estado, cozinhado por alguém cuja fome de poder cegou.
Este não é o Partido Socialista. Este é um movimento perigosamente desordeiro e egocentrista, que tem tudo para correr mal. Oxalá corra bem. Oxalá o BE, o PCP e o PEV sejam capazes de domar essa fera política. E esperemos ainda que o Presidente da República acorde do sono profundo em que mergulhou nos últimos dias e coloque um ponto final nesta brincadeira de mau gosto.
Os portugueses votaram em curta escala, é certo. A coligação PSD/PP venceu, é um facto. Podemos e devemos discutir as condições de governabilidade da coligação. Agora, daí a assistir a um acordo paralelo, que desrespeita a decisão do Presidente da República e a vontade dos portugueses, vai um passo enorme.
É tempo de sentar os líderes políticos à mesa, criar um conselho de — técnicos, não políticos de carreira, entenda-se — e discutir o nosso futuro. É tempo, essencialmente, de analisar ao pormenor o estranho caso de Costa, o ambidestro. É curioso constatar que quem joga a duas mãos e de dois lados tem sempre tendências egocentristas. Sim, estudemos Costa e sua ambidestria. E acima de tudo, estudemos com seriedade e preocupação o futuro de Portugal.