Quem se saiu melhor na primeira semana da campanha?

Pedimos a quatro especialistas, dois das universidades e dois do marketing, para avaliarem o comportamento dos líderes dos partidos com assento parlamentar. Felisbela Lopes, Marina Costa Lobo, Carlos Coelho e Ricardo Monteiro fazem a sua segunda avaliação.

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Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa


Os líderes mal-amados

O cenário político complicou-se, tanto para Passos Coelho como para Costa. As sondagens não mostram nem desempate técnico, nem voto útil, embora indiquem uma tendência de subida da coligação. Além disso, o cenário económico piorou. A notícia do défice de 7,2% para 2015 descredibiliza sobretudo Passos Coelho. Mas também dificulta a vida a António Costa, que precisa de folga orçamental para implementar a sua agenda política. Passados os debates, na televisão sobram notícias anódinas sobre os comícios e as entrevistas de Ricardo Araújo Pereira. Estas são ocasiões para todos brilharem - tanto favorece Paulo Portas como Jerónimo de Sousa. Com uma excepção: Passos Coelho que recusou participar. Os líderes estão agora sobretudo no terreno. Apagaram-se as luzes das televisões e foram encontrar-se com um país onde o entusiasmo é pequeno, a disposição para festas mínima. Os líderes do governo têm de ter cuidado por onde passam. Mas, de um modo geral, os ecos que nos chegam dos líderes no país real são o reflexo da forma como os partidos se entendem neste momento com o país: são suportados, mas não são amados. Sem o controle do formato mediático, que os favorece, com sondagens em catadupa que mostram indecisão, os líderes com pouca ligação ao terreno esforçam-se por animar uma festa onde os convivas parecem pouco inclinados a divertirem-se.  


Presidente da Ivity Brand Corp

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Costa ganha pontos a Passos

Em semana de prestação de contas, o saldo contabilístico foi negativo para a direita. Pedro Passos Coelho entre lapsos e desculpas mostrou o seu lado humano, mas acabou por voltar a “plafonar” o seu discurso em contabilizações estatísticas e perdeu eficácia. Paulo Portas arregaçou as mangas e cumpriu o seu papel de número 2, lugar que cria muita sombra na sua marca, mas que lhe provoca calores que o levaram a ter que tomar um banho frio e a perder pontos. Jerónimo de Sousa fez-se “fashion” vestido de preto para as artes em Coimbra, mas logo voltou à imagem carregada, jurássica e cinzelada pelas promessas de pedra, que parecem tomar conta do seu rosto e o fazem perder em empatia. Catarina Martins, discreta no vestir, pausada nas palavras e sempre de olhos bem abertos para as câmaras, deu esta semana mais uma prova da sua marca política ao ir a Paris lembrar a dimensão multiterritorial do povo português. António Costa que continua a valer um “poucochinho” mais que o seu partido resolveu bem o embaraço dos números da sua "pastinha", afirmando com honestidade a sua vocação humanista e não economicista. Contudo, o grande conciliador da política nacional, mostrou as suas garras e diz-se não conciliador do orçamento, atitude que enfraquece a sua marca junto dos indecisos, mas que lhe pode valer muito votos à esquerda. Ganha pontos em empatia, mensagem e eficácia e ultrapassa PPC.


Professora de Jornalismo da Universidade do Minho

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(Ainda) Tudo em aberto

Esta foi a semana em que a coligação Portugal à Frente ganhou outro fôlego. Porque as sondagens alavancaram o entusiasmo. Porque o PS não galvanizou multidões. Porque Passos Coelho se envolveu mais com as pessoas. Mas nada está decidido.

É verdade que nem tudo correu bem para o PaF. Por estes dias, Passos teve de reconhecer um lapso seu sobre o FMI e foi chamado a explicar a derrapagem do défice público do seu Governo. Momentos que poderiam ser pontos de travagem a fundo em qualquer candidatura. Não foi assim. A direita tem uma estratégia de comunicação bem planeada, capaz de neutralizar todos os imprevistos. E a esquerda tem sido incapaz de se constituir como uma espécie de megafone coletivo que lhe permita fazer vingar com músculo as suas posições.

Nos próximos dias, em círculos mais favoráveis, o PS tem de ganhar uma renovada vida. Outra vez. Para isso, António Costa necessita de um partido mais unido e mais mobilizado. Catarina Martins continua a fazer (bem) uma campanha de proximidade, misturando-se, o mais possível, com as pessoas em ambientes populares. Por seu lado, Jerónimo de Sousa tem perdido algum fulgor, mas as sondagens não o têm penalizado.

Até ao dia 4, os candidatos podem ainda surpreender (muito) e os media podem também baralhar tudo, se produzirem uma imprevisível noticiabilidade.


Presidente global da Havas Worldwide


Realidade e ficção

Realidade: défice de 2104 atinge 7,2%.

Ficção: o dinheiro está a render.


Realidade: o FMI pede “cautela” na reversão das medidas para garantir défice 2015. Défice ao dia de hoje, 4,7%.

Ficção: a Comissão Europeia afirma que o objectivo do défice de 2015 “ainda” pode ser atingido. O objectivo é de 2,7%.

Realidade: o Syriza ganhou as eleições.

Ficção: as sondagens apontavam a um empate com a Nova Democracia.

Realidade: a receita de impostos da câmara de Lisboa cresceu em 30% sobre o ano passado.

Ficção: será possível resolver o problema da Segurança Social sem recurso a novos cortes.

Realidade: Tsipras vergou à vontade dos credores e ignora referendo.

Ficção: a vitória do Syriza é uma esperança para a Europa.

Realidade: Corbyn é o novo líder dos Trabalhistas. As sondagens na e Europa não acertam uma de há um ano a esta parte.

Ficção: com 250 pessoas na amostra, é possível projectar os resultados das próximas eleições em Portugal.

Realidade: o Governo português, seja ele qual for, terá que manter as políticas actuais.

Ficção: a mudança de partido trará mudança.

Como aqui se vê, realidade e ficção são irmãs gémeas na política hoje.

E não há político a quem interesse a distinção.
 

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