Jeremy Corbyn acaba de ganhar as eleições para a liderança do Labour britânico. Que sinal podemos tirar de tudo isto? Será Corbyn capaz de liderar a oposição ao Governo de David Cameron?
Será Corbyn capaz de ser uma alternativa (séria!) aos conservadores britânicos que reforçaram o seu poder nas últimas legislativas e assim recuperar milhares de eleitores perdidos? Duvido.
A vitória de Jeremy Corbyn é um sinal preocupante sobre o rumo (ou falta deste) da esquerda democrática europeia. A falta de pragmatismo nas propostas e nas soluções para a vida dos países e das pessoas, e a radicalização de alguns dos seus dirigentes, está a empurrar a esquerda socialista democrática para um desnorte, diria, preocupante.
Primeiro veio a globalização, depois chegaram as crises económica e financeira da primeira década deste século. Terão sido estes factos determinantes para compreendermos o rumo e a actual posição da esquerda? Diria que sim.
O mundo globalizado, as crises do "sub-prime" e das dívidas soberanas e a revolução tecnológica exigiram e exigem mais pragmatismo e menos ideologia. Ora, foi este o erro de cálculo das esquerdas. Mas foquemo-nos no caso europeu.
A “bebedeira” do crescimento económico atrelado ao aumento (surreal) das dívidas públicas terminou. E enquanto a direita, não por falta de sensibilidade social, mas por pragmatismo, teve a coragem de fazer o que era necessário para evitar as bancarrotas, a esquerda tentou reescrever a história e anular a sua quota parte de responsabilidade em tudo isto.
Ora, foi este comportamento pouco sério, pouco humilde e pouco inteligente, do ponto de vista político e partidário, que levou à quase aniquilação do partido socialista grego, à maior derrota eleitoral do Labour, à pouquíssima vantagem/desvantagem (segundo as diferentes sondagens) do PSOE e do PS português face a uma direita no poder tão contestada pelas medidas de austeridade que levou a cabo. Estranho, não?
Não podemos compreender a vitória esmagadora de Cameron, as possíveis vitórias eleitorais de Rajoy e Passos Coelho/Paulo Portas, governos francamente impopulares, se não percebermos o mérito que a esquerda democrática tem nestas possíveis vitórias.
Durante a crise das dívidas soberanas, o eleitorado, esmagado por impostos, ansiava por uma resposta diferente das oposições.
A fórmula de sempre
Dos partidos socialistas ouviu a fórmula de sempre: mais investimento público e menos impostos. No fundo, um mar de rosas. Contudo, a esquerda democrática não percebeu que essa velha equação estava mais que provada que não funcionava e que apenas levaria a mais bancarrotas. No fundo, não soube compreender o próprio eleitorado.
Ora, este vazio foi ocupado pelos ideólogos das nacionalizações, da luta de classes, do colectivo, numa palavra, foi ocupado por Tsipras, Iglesias e Corbyn. Tsipras chocou com a realidade, e o experimentalismo grego matará, politicamente falando, todos aqueles que o viram como o tão aguardado Messias que viria salvar a “verdadeira” esquerda dos tiques neo-liberais dos Tony Blair da política.
A obsessão pelo purismo ideológico acabará por se revelar um autêntico desastre. Ou alguém ainda acredita na exequibilidade das propostas de Janeiro de 2015 do Syriza? Convenhamos, até o próprio Tsipras já as rejeita. Será que a esquerda ainda não percebeu que a universalização da educação levou a que hoje as pessoas saibam fazer contas, e que mais investimento público e menos impostos ou austeridade é uma conta impossível? Será que a esquerda optou pelo protesto demitindo-se da sua responsabilidade de oposição séria?
Se for assim, será a esquerda o maior inimigo da própria esquerda. Se for assim, não são os partidos políticos que saem derrotados, mas a própria democracia que, como sabemos, não vive sem um contraditório sério e pragmático.
Corbyn, um radical próximo do Syriza, é o melhor que poderia acontecer aos conservadores britânicos. Infelizmente, será a morte dos trabalhistas. Blair avisou. Depois não se venham queixar.