Como mosca em leite derramado
Assunção Cristas está neste processo como mosca em leite derramado, a ver como sair dali.
A sustentabilidade dos rendimentos dos produtores de leite está mais dependente das políticas do que do mercado. As margens são curtas, e mínimas oscilações de preços abanam as estruturas de custos. Mais, se é verdade que todos os produtores leiteiros europeus recebem ajudas, os produtores portugueses são, de longe, dos que menos recebem. Veja-se o que vem de Espanha, um apoio de 300€ por vaca. Em Portugal, temos 82€. Diferenças que distorcem a concorrência.
Eram necessárias medidas vigorosas. Com novas regras da Política Agrícola Comum (PAC), com mais exigências ambientais, e, também, com a convergência interna, o setor tem menos ajudas. Sem quotas, a volatilidade dos preços aumenta. Além do embargo russo.
Assunção Cristas está neste processo como mosca em leite derramado, a ver como sair dali. Falhou na negociação da PAC, porque nunca teve a iniciativa para isolar a questão do leite e tentar obter verbas específicas, como se conseguiu em 2009. Nas decisões internas desvalorizou as dificuldades do setor. E não conseguiu uma “mediação musculada” entre a distribuição e a produção.
Tardiamente, avança agora com um Plano de Ação para o Leite (depois de o ter rejeitado em Abril, por proposta do PS, na Assembleia da República), com quase nada de novo. Está sem margem para novas medidas no PDR 2020, nomeadamente nas agroambientais (já foi ultrapassado o limite financeiro, só na primeira candidatura), e dependente de ajudas de emergência. Isto é, nada, nada, mas não se move.
De Bruxelas, neste início de setembro, sob uma forte manifestação de produtores, chegam paliativos. Considerando 500 milhões de euros para o leite, a ajuda corresponderia a 0,31cênt./litro. Em Portugal, este ano, a quebra do preço já atinge os 8 cênt./litro. Ora a verba será distribuída por vários setores e, mesmo se for maioritariamente para o leite, é absolutamente irrisória.
Deputado do Partido Socialista