A Europa precisa de deixar de ficar só emocionada e tem de se mexer

A cada dia que passa a União Europeia continua a adiar estratégias, acordos e todas estas burocracias que complicam o processo

NILUFER DEMIR/DHA/REUTERS
Fotogaleria
NILUFER DEMIR/DHA/REUTERS
NILUFER DEMIR/DHA/REUTERS
Fotogaleria
NILUFER DEMIR/DHA/REUTERS

Tinha apenas três anos de idade e viajava com a família. Objetivo: atravessar o Mediterrâneo, fugindo assim dos horrores da guerra na Síria e procurar uma vida melhor. Este menino, Aylan Kurdi, faz parte do grupo de 2600 pessoas que morreram nos últimos meses na procura do sonho inalcançável. E foi com este sonho que a Europa hoje acordou, com as imagens chocantes de um menino sem vida numa praia do Mediterrâneo.

A “criança da praia”, como foi intitulada na imprensa europeia, tem um nome, tem uma família, tem uma história, uma identidade e, mais do que isso, tinha esta utopia de chegar à Europa. Utopia? Sim, visto que este desejo cada vez mais parece inatingível, pois as “politiquices” voltam a ser um obstáculo num tema tão importante como o dos direitos humanos e a dignidade de cada indivíduo. Este não é o primeiro caso, nem será o último, mas até agora foi o que mais conseguiu chocar o mundo, sendo que foi preciso chegar a estes termos.

Aylan e mais 2600 pessoas já morreram a tentar chegar à ilha grega de Kos, a principal porta de entrada dos refugiados sírios no Mediterrâneo. A Síria é o principal país de origem dos milhares de pessoas que fogem da guerra e da ocupação brutal do Estado Islâmico a que o país foi sujeito. Afeganistão, Albânia, Iraque e Paquistão compõem o leque dos principais países de origem dos refugiados.

A cada dia que passa a União Europeia continua a adiar estratégias, acordos e todas estas burocracias que complicam o processo. A realidade vai desde muros de arame farpado erguidos na Hungria, discriminação religiosa aos refugiados na Polónia e Eslováquia e o sistema de quotas para a divisão dos refugiados que cinde os países europeus.

Por dia, chegam cerca de 1250 refugiados à Europa, de Janeiro a Agosto entraram cerca de 300 mil pessoas no continente europeu, sendo a Itália e a Grécia os principais pontos de entrada. A Europa de Leste é a ponte escolhida como meio para atingir a próspera Alemanha ou a Suécia, para procurar uma vida melhor e fugir aos horrores da guerra.

Contudo, esta ponte é o principal obstáculo e problema, tanto para os refugiados como para a própria União Europeia. Na Hungria, um muro de arame farpado em toda a fronteira com a Sérvia visa impedir a entrada de migrantes, enquanto a Polónia pretende que apenas refugiados cristãos entrem no país, alegando que os muçulmanos são um risco para a segurança da Europa.

A Alemanha tenta resolver o problema, comprometendo-se a receber 800 mil pedidos de asilo. Para além disto, vai prescindir da regra do tratado de Dublin que indica que um refugiado seja deportado para o país em que deu entrada na Europa.

Na prática, visa impedir que os migrantes sejam reenviados para a Itália ou Grécia, os principais pontos de entrada na Europa, para que assim se possam estabelecer no país e começar a sua nova vida. O número de migrantes a chegar vai continuar a aumentar, enquanto as decisões e medidas tomadas são poucas ou nenhumas.

A frase do título foi proferida pelo primeiro-ministro italiano, mas a chanceler alemã e o presidente da Comissão Europeia também já se pronunciaram sobre o assunto.

O problema continuam a ser as palavras e as emoções, pois estas pouco resolvem. Os refugiados são mais que um simples número e um instrumento de sensibilização. São pessoas, seres humanos de carne e osso que simplesmente procuram uma vida melhor e fugir aos horrores da guerra. Este problema merece mais que parcas palavras e choque na opinião pública. è urgente que os líderes europeus se entendam o mais rápido possível e tomem decisões concretas. 

Sugerir correcção
Comentar