Sardinexit
Um fecho temporário da pesca dá sardinhas, dá dinheiro à economia a médio-longo prazo, mas infelizmente não dá votos.
Mas mais trágica ainda é a resposta que se está a preparar. Se entendo as reacções emotivas das organizações do sector, profundamente preocupadas com o seu futuro, repugna-me a resposta imediata dos decisores, que rapidamente vieram dizer que a recomendação é “apenas uma hipótese de trabalho”, “excessiva” e que está “tudo em aberto”. Tenho mesmo vergonha. Ninguém tem a coragem de assumir que este stock de sardinha está há anos a ser sobreexplorado. Põe-se continuamente água na fervura para que a bomba não nos rebente nas mãos. Não vale a pena empurrar mais com a barriga, e apelar à responsabilidade social dos senhores do ICES. É justamente por responsabilidade social que estas recomendações são feitas, pois não há responsabilidade social sem uma gestão sustentável dos recursos naturais.
A New Economics Foundation, um think-tank sediado no Reino Unido, publicou em 2012 um estudo sobre quanto estamos a perder em cada ano por estarmos a permitir a sobrepesca, ou ao contrário, quanto ganharíamos todos se tivéssemos a coragem de parar temporariamente a pesca desses recursos até que recuperassem para uma pesca sustentável. A nossa sardinha consta deste estudo. A um governo responsável competir-lhe-á encontrar soluções de apoio dignas para o sector enquanto está parado, operacionalizando diferentes linhas de financiamento para o efeito, e aproveitando o período de pausa para redimensionar o sector à exploração sustentável do stock depois de recuperado.
Um fecho temporário da pesca, o “sardinexit” do título, dá sardinhas, dá dinheiro à economia a médio-longo prazo, mas infelizmente não dá votos. De facto, não conheço nenhum político que tenha a coragem de o propor, embora sabendo que é esse o caminho e que quanto mais tarde, pior. Resta-nos que o stock entre em colapso e que depois demore muito mais tempo a recuperar, com perdas económicas e sociais muito maiores, que outros políticos terão que gerir como puderem. Triste sina a nossa.
Biólogo (bagoncas@gmail.com)