Todos nós temos um aspecto muito próprio que pode ser exponenciado e eu defendo que, às vezes, tudo o que basta é uma oportunidade. Criada(s) ou não por nós, esta(s) trazem sempre pessoas ao nosso caminho que, com maior ou menor impacto, passam a fazer parte da nossa vida. A Sara foi uma dessas pessoas. O talento é-lhe tão inerente que foi impossível passar despercebido.
Apresento-vos Sara Chéu, 27 anos. É de Lisboa e uma performer em ascensão. O percurso dela começou na escola do Chapitô (EPAOE) onde tirou o curso de Artes e Animação Circense, e foi nos corredores da mesma que a nossa conversa se desenvolveu. Apesar de se ter formado na Academia de Dança Contemporânea em Setúbal como bailarina é nas artes cénicas que encontra o seu “meio ambiente” que agora pretende vincar com o mestrado nesta área na FCSH. Depois do interregno de bailarina, conta-me, e tendo o seu caminho enveredado pelas artes cénicas, sente agora uma curiosidade imensa por uma arte que até hoje não conseguiu aprofundar: o “clown”.
Já conta com vários projectos, a título individual e colectivo, mas à medida que subimos e descemos as escadas do Chapitô emergem ideias que agora vivem ali em memórias — como por exemplo uma peça que desenvolveu na casa de banho do segundo piso que a Sara me contou sentada no tampo da sanita da dita (o que nos valeu umas valentes gargalhadas e fotografias).
Quando pergunto sobre experiências marcantes, ela tem dificuldades em especificar, mas revela que entre a sua formação em 2013, fez uma residência artística (“Oversweet Experience”) na Alemanha e integrada no European Roots Movement Festival, onde criou um pequeno solo intitulado “Playin the Game” e de onde originou uma parceria com Marija Baranauskaite (da Lituânia). Desta parceria surge o projecto (não financiado) Gravediggers Dream que já está online e em constante desenvolvimento. Aqui vão partilhando onde andam e o que andam a fazer através de performances ao vivo (inicialmente em versão “caseira”) que documentam em fotografias e vídeos: “A última vez que nos encontrámos foi em Paris. A próxima não fazemos ideia, porque Paris deixou-nos falidas.”
Como origem também de uma residência artística em 2012 em Portugal co-criou com Ângelo Cid Neto a performance “Octávio de Olhos Fixos”, vencedora do 1º Campeonato português de Buskers e apresentado já em vários locais de Lisboa, desde rua, metro, cafés, palácios, e ultimamente em escolas, integrado no Festival Materiais Diversos. Em 2014, a convite da plataforma Gerador e para a revista da mesma desenvolveu uma fotonovela exclusiva e criada de raiz intitulada “Comic Balloons”. “Tinha liberdade total praticamente e eu acho sempre mais difícil quando podes fazer o que tu quiseres, as possibilidades são infinitas. Mas a aceitação do público foi surpreendente!” Confesso. Fiz parte do público que adorou a sua expressão como performer neste editorial.
No passado mês de Fevereiro esteve no festival The Resolution’15, em Londres, onde participou numa peça de Rosana Ribeiro, “Plastisphere”, e neste momento a Sara encontra-se no Rio de Janeiro para participar numa performance intitulada “BUGS” de Catarina Vieira e Solange Freitas que estará em cena na Sede das CIAS de 10 a 13 de Abril. Para quem vive em Lisboa, um novo projecto com o Ângelo Cid Neto estará em divulgação nos eventos do PLANO LISBOA e consistirá de uma performance, com ensaios abertos em locais inóspitos, a partir do dia 23 de Maio. Esta residência artística irá começar a meio de Abril na Peixaria Centenária. Por isso mantenham-se atentos e não se esqueçam de ir comprovar o que a Anita anda aqui a apregoar.