Opinião: Einstein, eclipses & companhia

A teoria da relatividade foi comprovada por um eclipse solar em 1919.

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Eclipse total do Sol em Novembro de 2012 NASACirtain

Há quase 100 anos, um eclipse total do Sol mudou a ciência moderna. Em Maio de 1919, uma equipa internacional de astrónomos liderada por Arthur Eddington, da Real Sociedade de Astronomia do Reino Unido, com astrónomos portugueses do Observatório Astronómico de Lisboa e da Sociedade de Geografia de Lisboa deslocaram-se à ilha do Príncipe, no arquipélago de São Tomé e Príncipe.

O objectivo era claro: comprovar a teoria da relatividade de Einstein que tinha sido formulada em 1905. Eddington e a sua equipa mediram com precisão a posição de estrelas próximas do disco solar. Estas estrelas apenas estavam visíveis devido à ocultação do Sol pela Lua. Os raios luminosos destas antes de chegarem à Terra passaram muito perto do Sol e confirmaram a previsão feita por Albert Einstein: estas estrelas não ocupavam as suas posições habituais até então esperadas no céu; através de fotografia comprovou-se que estavam ligeiramente deslocadas, como previa a teoria da relatividade. Esta dicotomia teoria-experimentação – em que teorias têm de ser comprovadas – é a base da ciência.

O último grande eclipse em Portugal foi há dez anos: um eclipse anular. Infelizmente, o eclipse deste ano em Portugal não será anular ou total: apenas cerca de 70% do Sol vai ser ocultado. Não tendo a grandeza visual de um eclipse total, um eclipse parcial não deixa de ser um fenómeno único a ser observado. Com uma exactidão impressionante, conseguimos prever que o eclipse terá início às 7h59 em ponto, em Lisboa.

Infelizmente, na Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) a ocasião do eclipse não vai ser marcada pela celebração das suas contribuições científicas e culturais para a observação de eclipses. No entanto, esta centenária sociedade científica abriu as suas portas para a um encontro luso-brasileiro de astrologia. Com certeza que os membros da SGL que participaram nas observações de 1919 não ficariam muito contentes com o acomodar nas instalações da SGL de seguidores de “uma crendice vã e já quase rejeitada que emite juízos sobre a vida e a fortuna”, como foi definida pelo matemático Pedro Nunes no século XVI.

Mas, felizmente, o Observatório Astronómico da Universidade de Lisboa vai continuar a sua tradição de observar e divulgar estes fenómenos astronómicos raros. Podem consultar-se os horários de observação, bem como informações adicionais na página do observatório.  

Astrónomo da Universidade de Leiden, Holanda

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