O panorama europeu no segundo Pós-Guerra implicou na arquitectura erudita uma investigação sobre as relações entre esta disciplina e a antropologia, um interesse pela cultura popular e a afirmação da arquitectura para o maior número com projectos de grande escala. Apesar de os principais protagonistas insistirem nas conexões da arquitectura com a vida quotidiana, não deixava de prevalecer uma certa gravidade nas obras produzidas. Daí emergiram as tentativas de circunscrever as práticas com nomes como Brutalismo, Metabolismo, entre outros.
O arquitecto Frei Otto parte deste contexto social, mas a sua obra foi noutra direcção, no sentido do imaginário da transformabilidade do espaço tenda, do que é nómada e não perene, numa arquitectura topográfica e informal. Para isso, foi necessário mergulhar numa investigação sobre estruturas tensionadas e leves, das quais se tornou um pioneiro e um inventor. Tornou-se um arquitecto-engenheiro. Mas a tecnologia, no caso de Frei Otto, parece não ter sido nunca um tema em si mesmo. Parece nunca se ter sobreposto à síntese que a melhor arquitectura pode operar.
Os seus projectos entre a década de 1950 e o presente são variações sobre o mesmo tema conceptual, numa progressiva apuração tecnológica e trabalho sobre as telas e a luz difusa. Entre o Budensgartenschau de Kassel, construído em 1955, e as obras mais recentes, como a que realizou em co-autoria com Shigeru Ban para o Pavilhão do Japão na Expo 2000 em Hanover, Alemanha, existe um filão claro que envolve a interrogação sobre o significado da estrutura por analogia ao mundo da biologia; e o significado do espaço fluido por analogia ao meio não transformado pelo homem.
Os desenhos de Frei Otto assemelham-se a levantamentos topográficos em planta. As secções remetem-nos para uma aparente fragilidade estrutural, no limite das suas possibilidades estáticas, necessária para a leveza ambicionada.
Uma das obras mais celebradas de Frei Otto foi a estrutura de cabos utilizada no Pavilhão da Alemanha na Expo 67 em Montreal, Canadá, onde Buckminster Fuller, um arquitecto americano também interessado nos mesmos temas, construiu uma cúpula geodésica. O projecto para a Expo 67 foi construído na Alemanha, levado para o Canadá e aí montado. A luz interior constante, como se dentro de uma tenda, e as variações formais ditadas pela estrutura fizeram deste projecto um protagonista. Outro foi a cobertura do Estádio Olímpico de Munique, de 1972. A sua expressão é a de uma rede sem gravidade lançada sobre as bancadas do edifício.
Sendo um arquitecto associado a membranas, cabos, estruturas tensionadas, quando lhe perguntaram sobre as suas referências, Otto Frei refere um escultor da gravidade e da massa: Brancusi.