Emprego em 2015: o que podemos esperar?
A variação do terceiro para o quarto trimestre dos principais agregados, emprego e desemprego, está muito aquém do desejado. O emprego reduziu-se e o desemprego aumentou em termos trimestrais enquanto a evolução homóloga foi precisamente a oposta, colocando em dúvida a recuperação do mercado de trabalho.
Mas mais do que centrarmos a nossa atenção em dados de conjunturais, que em alguns aspectos são ainda contraditórios, importa reter quais as tendências de longo prazo das várias componentes do mercado de trabalho português, as quais nos poderão ajudar a antecipar a dinâmica do emprego em 2015.
Em primeiro lugar, verificamos uma evolução positiva do emprego em termos trimestrais e homólogos nos grupos ou categorias de emprego melhor qualificado e de melhor qualidade contratual (subida do emprego por conta outrem sem termo e do emprego de trabalhadores com ensino superior).
Em contrapartida, a diminuição do emprego em termos trimestrais e homólogos dá-se de forma coincidente na agricultura, no emprego de activos com mais de 65 anos e no emprego por conta própria, os quais serão empregos associados a ocupações de menor produtividade e inferior qualidade dos contratos de trabalho.
Em segundo lugar, a descida do preço do petróleo e a desvalorização do euro tornará as exportações mais competitivas para os mercados extra-UE e simultaneamente menos expostas à concorrência dos produtores de países terceiros à UE, que concorrem com os produtores nacionais nos mercados Europeus. Os sectores mais beneficiados serão aqueles onde o factor preço tem maior preponderância, os quais por norma serão também os sectores mais intensivos em trabalho. Assim, a dinâmica das exportações em 2015 deverá impactar de forma positiva e mais evidente o mercado de trabalho do que a que ocorreu em anos recentes.
Assim, se os próximos meses confirmarem os dados de Dezembro, haverá motivos para encarar de forma optimista a evolução do mercado de trabalho em 2015, com mais e melhor emprego. E esta será seguramente a notícia que as centenas de milhares de desempregados e trabalhadores em situação de precariedade desejariam que se confirmasse.
Economista, investigador da Universidade do Minho