Talent Spy: um “software” português que chegou ao Brasil
Esta plataforma regista e gere dados de jogadores e foi desenvolvida por uma empresa sediada em Braga. Lançado em 2013, o Talent Spy já é utilizado pelo Sport Club Internacional, clube de futebol de Porto Alegre
É 100% português e já está do outro lado do Atlântico. Lançado no final de 2013, o Talent Spy é uma plataforma “online” de registo, armazenamento, organização e gestão de dados relativos a jogadores, jogos e competições desportivas, apresentando uma avaliação sobre cada atleta. Desenvolvido pela empresa bracarense F3M – Information Systems, o “software” começou a ser utilizado esta época por um clube brasileiro – o Sport Club Internacional, de Porto Alegre.
É “pioneiro a nível mundial”, garante Pedro Matos Vital, “product manager” do Talent Spy. “Existem algumas plataformas a nível mundial, mas são acima de tudo bases de dados, de informação estatística e de compilação de vídeos de jogos. Aqui é algo completamente diferente e inovador. É uma ferramenta que pretende tratar o conteúdo do próprio cliente, ou seja, o cliente é quem carrega o sistema com a informação, que ele próprio produz”, explica ao P3.
No entanto, esta plataforma não se destina apenas a grandes clubes ou a profissionais, mas sim a qualquer adepto. O Talent Spy dirige-se a diferentes utilizadores dentro do universo do futebol e do “scouting” (observação de jogadores e consequente recolha e análise de informação sobre a performance em jogo), tais como academias de formação, agências de “scouting” e de jogadores, escolinhas de futebol, treinadores, agentes, empresários e olheiros.
Para registar e gerir dados de jogadores
Mas como funciona o Talent Spy? Durante 30 dias, o utilizador pode experimentá-lo gratuitamente. Depois pode escolher entre duas modalidades: Premium e Elite. “Nós diferenciamos entre clientes do mercado “online” e clientes elite, aqueles que tratamos directamente, nomeadamente grandes clubes e agentes desportivos. Para alguém adquirir individualmente a plataforma pode fazê-lo a partir do “site”. Regista-se e pode começar com uma conta “free” e depois passar para outras contas pagas, onde há muito mais potencial disponível”, explica Pedro. Na Premium, “qualquer utilizador [único] pode ter uma conta Talent Spy por 6,90 euros por mês”, garante. Aqui existem contas para um único utilizador, mas também para cinco, dez, 15 ou 25 utilizadores. À medida que aumenta o número de utilizadores, mais elevado é o preço. “O nosso objectivo é que esta seja a linguagem do “scouting”, a nível universal. E tivemos que criar um modelo de negócio convidativo para que qualquer técnico numa distrital ou numa divisão secundária possa, ele próprio, ter a ferramenta como seu instrumento de trabalho”, destaca o “product manager”.
Os relatórios de observação e a pesquisa avançada são duas das funcionalidades do Talent Spy destacadas por Pedro. A plataforma permite criar perfis de jogadores com dados pessoais, competências e atributos (de ponto de vista técnico, táctico, físico e mental) e depois gerar relatórios individuais de cada jogador. Cada relatório inclui informação detalhada (nome, idade, clube, posição, desempenho e atributos) e compreende um jogo em que o jogador é observado. Depois de várias observações realizadas, o “software” permite também a criação de avaliações de perfil de cada jogador.
Introduzidos os dados, o utilizador pode fazer uma pesquisa avançada de jogadores, através de variáveis como a idade, a posição e diferentes características. “Por exemplo, eu tenho uma equipa e preciso de um lateral esquerdo com determinadas características. Que jogadores, mediante as análises que foram feitas, preenchem estas características? Então, na base de dados com centenas ou milhares de jogadores que já foram avaliados, o “software” vai automaticamente buscar os que se destacam, consoante o perfil indicado pelo próprio técnico”, exemplifica.
Como surgiu a ideia?
A ideia e o desenvolvimento da plataforma começaram ainda em 2012. A F3M, especializada em Tecnologias da Informação e Comunicação, não estava, até aí, virada para o desporto, embora já o planeasse. A aposta no sector desportivo fazia parte da estratégia de internacionalização da empresa e, por isso, a proposta que viria a transformar-se no Talent Spy não podia ser melhor recebida. O projecto inicial do “software” foi apresentado, ainda numa “fase embrionária”, por Hugo Vicente, na altura coordenador técnico do Sporting Clube de Braga.“Nós tínhamos a componente tecnológica, mas a componente técnica e futebolística não, e [precisávamos] de uma pessoa dessa área para conseguirmos ir ao encontro das necessidades e expectativas do sector, nomeadamente na área do “scouting”, conta Pedro.
No final de 2013 surge a plataforma no mercado, mas este é um projecto em constante desenvolvimento, como destaca o “product manager”, avançando que na próxima semana será lançada o Talent Spy 2.2.
Talent Spy atravessa o Atlântico
Actualmente, este “software” tem mais de 2500 utilizadores (“online”) espalhados por cerca de 70 países. A nível de clubes, Estoril, Sporting e Benfica são os únicos a utilizar o Talent Spy. Ou eram. O Sport Clube Internacional, de Porto Alegre, é outro dos clubes que já aderiu à gestão de jogadores através desta plataforma. Apesar de a empresa estar já em contacto com clubes europeus e latino-americanos, o clube brasileiro foi o primeiro além-fronteiras a adoptar o “software”.
Embora o Talent Spy esteja centrado no futebol, Pedro Vital não descarta a possibilidade de vir a ser dirigido para outras modalidades, destacando o caso do Benfica, em que a plataforma é utilizada no futsal. “O objectivo do “software” é o mercado desportivo. Estrategicamente apontamos para uma modalidade que pudesse gerar benefícios imediatos e daí direccionarmo-nos inicialmente para o futebol. Não quer dizer que não estejamos atentos a outras modalidades e não há nada, [no "software"] que iniba que seja adaptado para outras”, remata.