Inês Carrola tinha 12 anos quando uma amiga morreu de leucemia com a mesma idade. Com o tempo começou a pensar que “não podia deixar passar isto em vão”. "Tinha de fazer alguma coisa e tirar algo de positivo, de uma tragédia que é perder a vida de uma criança e de uma amiga”, recorda ao P3. Juntamente com mais quatro jovens começou a recolher brinquedos para crianças do Hospital de S. João, no Porto. Foram entregá-los aos quartos do hospital e perceberam o quanto tinham ficado “contentes”. Surgia assim a ideia: “avançar e fazer isto de forma rotineira”. “Brave – À conquista de sorrisos” é o nome da associação juvenil fundada por Inês. Surgiu oficialmente em Abril de 2013 (ainda com o nome “Team End”) e é constituída, actualmente, por voluntários entre os 15 e os 22 anos.

São mais de 30 jovens e ajudam crianças com cancro. Visitam-nas em casa ou no hospital, passeiam com elas, dedicam-lhe tempo e atenção, mas também angariam dinheiro para ajudar as famílias a suportar os tratamentos e as despesas. Inês, presidente da associação, tem 19 anos e desvenda ao P3 a missão da Brave. “Ajudar as crianças e as famílias a financiar os tratamentos e contas de casa que não consigam pagar por causa das despesas no hospital. Mas temos também a parte lúdica”, refere, realçando, que tentam estar, sempre que possível, com os mais novos. Passam tempo com eles e levam-nos até a alguns dos seus locais preferidos. No entanto, este tipo de contacto é realizado, na maioria das vezes, com crianças da zona Norte, uma vez que os voluntários são todos dos arredores do Porto. Já chegaram a visitar crianças a Lisboa, mas Inês admite que é “complicado”, devido aos custos de transporte associados.

A associação não tem sede e, por isso, as reuniões são realizadas na paróquia da Senhora da Hora, em Matosinhos. Os brinquedos angariados, por exemplo, são guardados na garagem de Inês que, garante, no entanto, que a prioridade não é criar uma sede, mas reunir fundos para famílias que realmente precisam.

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O trabalho da associação passa ainda por cativar os jovens a fazer voluntariado, mas também por alertar a comunidade para o cancro pediátrico. “Vemos muitas ajudas para o cancro da mama, para outras associações e para o cancro pediátrico não há muito e queremos quebrar isso”, salienta.

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Como angariam dinheiro?

Anualmente é realizada uma gala de jovens talentos, cujo valor da entrada reverte para uma ou duas famílias que estejam “a precisar mais naquele momento”. Também angariam fundos, através de bancas em feirinhas ou cantando músicas de Natal pelas ruas do Porto. “Não fazemos peditórios, [optamos] por dar sempre algo em troca”, afirma. Exemplo disso é o que fazem em vésperas de Natal. Durante uma tarde e uma noite, os voluntários juntam-se e cantam músicas natalícias pelas ruas do Porto. Entregam panfletos às pessoas e chupa-chupas às crianças. “Uma música, um sorriso" é o lema da iniciativa, com a qual angariaram dinheiro para famílias específicas e divulgam a mensagem da associação.

Embora já tenham reunido dinheiro para uma associação americana dedicada à procura de uma cura, Inês admite que têm optado por ajudar famílias específicas. “Percebemos que há muitas famílias a precisar de ajuda, muito próximas de nós e que as pessoas se ligam mais quando há uma cara e uma família, do que a uma causa em geral”, explica.

A ajuda pode ser monetária através do NIB da associação – 0038 0000 4057266877175 – ou do voluntariado. Para ser voluntário, basta ter até 30 anos e contactar a Brave pela página de Facebook ou por e-mail.

“À conquista de sorrisos”

É através do Facebook que, muitas das vezes, a associação toma conhecimento das famílias das crianças com cancro. Depois é o “passa-a-palavra”: são estas famílias que os fazem chegar até outras. Seguem-se encontros informais entre a associação e as famílias, para perceber a situação financeira em que se encontram e ver qual a melhor forma de angariar dinheiro. O apoio não é pontual e a associação faz questão de continuar a acompanhá-las: “Nunca perdemos contacto com nenhuma família, queremos estar com as crianças, saber a evolução delas, vê-las crescer”.

E a reacção das crianças não podia ser melhor. Inês recorda um episódio com uma delas: «A primeira vez que esteve connosco disse: "Eu costumo estar feliz, mas hoje estou mais, porque estou com vocês”. Nós ficamos de alma cheia».

Uma criança a fazer músculos e a rir bastante – o logótipo traduz a mensagem a passar: “durante cada batalha as pessoas conseguem ter sorrisos”. Tal como o nome da associação. "Brave" significa corajoso e queremos passar a mensagem que qualquer pessoa consegue ser corajosa com um bocadinho mais de dedicação e amor por parte de quem está à volta. Há crianças corajosas por natureza, mas outras precisam um bocadinho mais de ajuda”, explica.

“Queremos crescer a nível nacional e que mais famílias venham ter connosco”, adianta Inês. Têm ainda outros projectos em mente: a concretização de sonhos e a criação de um campo de férias de Verão para as crianças com cancro. “Claro que vai ser difícil, temos de arranjar espaço, instalações próprias e equipa médica para estar lá 24h, mas seria uma forma de as crianças se sentirem felizes. Nos EUA já existe, mas em Portugal seria pioneiro”, garante.

Actualmente a frequentar o curso de Ciências da Comunicação, na Universidade do Minho, a jovem de Matosinhos pretende especializar-se em Audiovisual e Multimédia e aliar a formação ao trabalho desenvolvido na Brave: a ideia é realizar um pequeno documentário em português sobre o que é feito na associação.