A estratégia diplomática de Rui Machete, nos últimos tempos, era essencialmente de refúgio, discrição e contenção, dado que as constantes ousadias e comentários agressivos do governo angolano, o próprio misterioso caso da Guiné-Equatorial e a CPLP, entre outras intervenções menos positivas do próprio, colocaram-no entre a espada e a parede, ou melhor, levou a que o crédito de intervenção ficasse a zero.
A prudência diplomática conheceria, no entanto, nos últimos dias, após uma entrevista do ministro dos Negócios Estrangeiros à Rádio Renascença, uma verdadeira hecatombe. Machete, talvez ansioso por algum destaque, revelou uma informação secreta: a vontade de alguns jihadistas portugueses em regressar ao seu país de origem.
Isto levanta algumas questões. Rui Machete parece usar e abusar de uma forma de fazer diplomacia um pouco desviante daquela que é aconselhável. De uma certa forma, o seu acto parece representar o mesmo que Frank Gehry faz à arquitectura actual – ambos se alimentam das suas profissões, mas desprezam-nas. Confesso que fico com algum receio relativamente a este comportamento, na medida em que qualquer dia temos o ministro dos Negócios Estrangeiros, no café, a revelar todas as informações confidencias.
No que concerne aos jovens jihadistas, só pode haver uma explicação lógica: O Estado português não os quer aceitar em solo nacional e sentencia-os, por esta via, à morte. Não se pense na adesão a uma organização terrorista como um simples preenchimento de fichas de militância no PS ou PSD, ou outro partido qualquer. Tal como a sua saída, pois o jihadista, depois de reuniões, treinos militares e planos de ataque a vários locais do mundo, não entrega o seu cartãozinho de militante e despede-se dos seus camaradas com uivos e abraços reconfortantes. Evidentemente que existe outra explanação, todavia parece-me mais irrisória, ou seja, Machete pensou que os jihadistas, lá escondidos pelas recônditas montanhas, não tinham acesso à imprensa portuguesa (em particular). Por outro lado, é óbvio que os mesmos, ao regressar, têm de ser julgados, mas não à morte.
No velho baú dos erros do plano das relações internacionais, como já foi referido, está o pedido de desculpas – uma acção muito rotineira dos principais intervenientes do actual Governo – pelas investigações que o Ministério Público português procedeu sobre alguns empresários angolanos, ao que se junta a última acusação do embaixador angolano de Lisboa, José Marcos Barrica, no qual delata as “forças do mal” de Portugal de “denegrir” Angola. A questão dos jihadistas e as tomadas de posição agressivas de Angola em relação a Portugal deixam mais uma bomba nas mãos de Passos Coelho e, desta vez, pedir desculpa não resolve.