Os desafios de António Costa

O primeiro grande desafio de António Costa está cumprido, porém, depois de um acto eleitoral tão intenso e apaixonante, ainda falta muito para consolidar o partido

Foto
Hugo Correia/Reuters

No passado dia 28 de Setembro, António Costa (AC) ganhou o embate contra António José Seguro (AJS) pela luta da liderança do partido. O primeiro grande desafio de António Costa está cumprido, porém, depois de um acto eleitoral tão intenso e apaixonante, ainda falta muito para consolidar o partido.

1. Esvaziar o balão do período eleitoral. Estas primárias levaram ambos os candidatos a prometer e prometer (embora o discurso não tenha estado centrado, propriamente, no programa e nas propostas). AC terá de suavizar, por exemplo, o documento de agenda política para a década, na medida em que é impossível, dadas as circunstâncias, quer integrado no contexto nacional, quer no internacional, projectar uma estratégia dessa magnitude. Bruxelas, inclusive, já fez soar o alarme relativamente à possibilidade de aumentar o salário mínimo.

2. A questão da aglomeração e união. As primárias trouxeram uma enorme histeria. Todos os socialistas — se quisessem ter uma tomada de posição — tiveram de escolher um lado e, desta forma, levou a que houvesse um embate feroz para além da simples discussão política (do género “o meu é melhor que o teu”). António Costa vai ter de gerir muito bem este imbróglio. É verdade que conquistou um resultado arrasador, no entanto foi conseguido muito à custa da ratoeira das primárias (na qual Seguro acabou por ser apanhado), ou seja, os simpatizantes não são os militantes, dado que estes últimos é que têm voz no interior do partido (relembre-se os resultados das eleições para as várias federações do país).

3. A expectativa de um partido mais de esquerda. Umas das principais cartadas da candidatura de AC foi a colagem a uma certa identidade de esquerda. Com uma Europa à direita e com os partidos socialistas em reformulação será, sem dúvida, um dos maiores desafios. Qual será o discurso adoptado? O de Renzi? O de Hollande? O de Pedro Sánchez?

4. Reconstruir e cooperar em alguns casos delicados. Matosinhos é, porventura, um dos casos mais paradigmáticos de confusão política. AC apoiou-se, essencialmente, neste local, em Guilherme Pinto (independente e ex-socialista que concorreu contra o PS nas últimas autárquicas e é o actual presidente de câmara). No entanto, existem três classes a distinguir: os independentes de Guilherme Pinto (que tiveram direito a votar nas primárias), os independentes de Narciso Miranda (sem direito a voto nas primárias) e os socialistas (divididos, mas com uma inclinação para Seguro). Como resolver esta situação? É necessário ter muito bom senso.

5. Beleza e o canto do cisne. Álvaro Beleza, um dos nomes fortes de AJS, poderá avançar no próximo Congresso. Tal acção, se for bem conseguida, coloca em causa, possivelmente, os resultados das primárias. Este ponto está assim alienado ao ponto 2.

6. Transição controlada na Câmara Municipal de Lisboa. São os pormenores que, muitas das vezes, fazem as vitórias. AC tem um compromisso com a autarquia e, como consequência, não pode abandonar repentinamente a mesma. Ora, a forma como resolverá esta transição é uma das primeiras etapas de AC.

7. Oposição ao Governo. Uma das principais críticas ao legado político de AJS, dos últimos 3 anos, está relacionada com a ligeireza com que o mesmo enfrentou o Governo. Bom, esta questiúncula é fulcral para o ímpeto de AC no PS. É o sucesso ou fracasso da mesma que ditará o caminho do novo líder e do novo partido. Neste âmbito, responder rapidamente às exigências levantadas é primordial. A política, hoje, não é tragédia, é muito mais que isso.

Sugerir correcção
Comentar