A esquerda europeia renasce em volta de um novo rosto, de uma nova alternativa política. Essa figura é Matteo Renzi. A crença nos heróis continua a ser a esperança de qualquer Homem da Esquerda. O póster de Matteo Renzi – o típico modelo que evidencia bem a mutação do político da social-democracia para algo parecido com o democrata-cristão e, ironicamente, trata-se provavelmente do último suspiro da esquerda na Europa – substitui o póster de F. Hollande que, algum tempo atrás, era visto como o bastião da mudança.
Renzi surge de um processo de renovação da classe política italiana dirigente, após vencer a batalha interna do Partido Democrático. Um aspecto que merece especial destaque são as várias semelhanças entre o jovem político italiano e António Costa. De uma certa forma, ambos são vistos como as últimas cartadas de um novo rumo para os partidos socialistas dos seus países, envolvidos, inclusive, numa espécie de messianismo ou sebastianismo. Por sua vez, tanto Costa como Renzi trazem consigo o sucesso de uma gestão administrativa (em Lisboa e Florença respectivamente), o machado herdado de uma forte guerra interna para alcançar a liderança partidária (para já só o italiano ganhou neste ponto) e a aceitação geral dos eleitores. Desta maneira, no fundo, quando a Europa traz Renzi, também traz António Costa. Claro que este modelo de liderança acarreta os seus riscos, ou seja, poderá ser possível que exista um desajustamento entre as expectativas desenvolvidas e os resultados reais. Algo que os esquerdistas, tão perdidos como o inexperiente leitor que lê "Ulisses" pela primeira vez, não podem deixar acontecer.
O que faz a Europa estar encantada com a "renzomania"? Matteo é como um novo brinquedo – uma espécie de Buzz Lightyear do "Toy Story" em versão política. Esperemos é que a vontade de voar se concretize, também, pelo menos, parcialmente – e isso ficou bem patente no confronto deste com o alemão Manfred Weber, o novo líder do Partido Popular Europeu (PPE), acerca da flexibilidade orçamental, deixando a imagem de um líder forte. Na verdade, nunca antes houve tanta falta daquilo que verdadeiramente falta faz: novas ideias, confronto com a direita, assumir posição e aglomerar a esquerda para as batalhas dos próximos tempos tenebrosos, dado que, citando Gabriel García Márquez, "um país sem uma esquerda organizada, com uma esquerda incapaz de convencer seja quem for, que passa a vida a dividir-se em pedaços, não pode fazer nada".
Por outro lado, relembre-se o balão F. Hollande – o tão aclamado discípulo de Jacques Delors - que esvaziou com a mesma rapidez com que foi enchido. O fracasso de Hollande significou um pré-claudicar da esquerda europeia e, como consequência, o fracasso de um novo messias político pode trazer um final infeliz e, também, uma enorme depressão para o centro-esquerda (abalado pela narrativa da direita saída da crise financeira de 2008). As coisas complicam ainda mais se Martin Schulz, o novo Presidente do Parlamento Europeu, se "ajoelhar" perante Mario Draghi, o Presidente do Banco Central Europeu (BCE), tal como fez o seu antecessor.
Em suma, os socialistas europeus parecem estar, novamente, à espera do brotar da rosa, da última rosa socialista. Esperemos que não murche.