Muito de muito pouco

A zona onde há mais fome nos EUA é também a que tem mais excesso de peso. Quase pela primeira vez na história americana, as crianças têm uma esperança de vida inferior à dos seus pais

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Já estava atrasada para a consulta médica, mas, antes de sair, a família Salas foi apressadamente à cozinha para mais um pequeno-almoço pago pelo Governo federal. A criança de quatro anos agarra num saco de batatas fritas com sabor a queijo e uma barra de cereais. A de nove enche uma taça de cereais açucarados e cobre-a de leite com chocolate. A mãe, Blanca, chega ao frigorífico e abre a gaveta onde guarda a insulina que precisa para a sua diabetes. Enche a agulha com o líquido e injecta na barriga com um gesto treinado.
“Vamos embora”, diz às crianças, correndo com elas da cozinha e enfiando-as no carro. “Podemos ir buscar snacks quando voltarmos para casa.”

O checkup familiar foi marcado por insistência da enfermeira da escola, que queria que a família Salas tratasse de dois problemas: ao mesmo tempo que sofrem de falta de alimentos nutritivos, fazem uma alimentação de excessos — dois problemas paradoxais que se tornaram cada vez mais interligados nos Estados Unidos, especialmente no Sul do Texas.

Preferir a quantidade à qualidade

Durante quase uma década, Blanca sustentou os seus cinco filhos fazendo esticar os 430 dólares mensais (cerca de 318 euros) em senhas de refeição, juntando banha para tornar mais espesso o seu feijão guisado [tipicamente texo-mexicano], e em caixas de sopas instantâneas de uma loja barata ali perto. Preferia a “quantidade à qualidade”, diz, enquanto tenta encher um carrinho na mercearia com menos de 100 dólares.

Mas as comidas baratas que ela podia comprar com o subsídio do Governo de 1,50 dólares por refeição também tendiam a ser das menos nutritivas — com muitos conservantes, gorduras, sal e açúcar refinado. Agora, Clarissa, a sua filha de 13 anos, tem um anel escuro à volta do pescoço que sugere diabetes precoce devido ao excesso do consumo de açúcar. Agora, Antonio, de nove anos, partilha medicamentos para o colesterol com a mãe. Neste momento, a própria Blanca está demasiado doente para trabalhar, recebendo subsídios de incapacidade aos 40 anos e sendo obrigada a testar os níveis de açúcar no sangue duas vezes ao dia para garantir que não tem o ataque cardíaco que os médicos avisaram que poderia resultar da sua alimentação.

Segue no carro em direcção ao consultório médico por auto-estradas de duas faixas do Sul do Texas, um horizonte plano de pó castanho intercalado por palmeiras e a vista ocasional do muro de aço que separa os Estados Unidos do México. Os pais de Blanca emigraram do México na década de 1950 para apanhar morangos e cerejas, e frequentemente repetiram o aforismo à volta da vedação fronteiriça: “De um lado, é-se magrinho; do outro, gordo”, diziam. Agora, muitos mais milhões passaram o muro, legal ou ilegalmente, tornando Hidalgo County um dos locais da América com crescimento mais acelerado.

Alguns habitantes começaram a chamar à zona El Futuro, e o futuro está a desenrolar-se num ciclo de extremos: Hidalgo County tem um dos mais elevados índices de pobreza do país… o que levou a quase 40% dos habitantes a depender do programa de senhas de refeição… o que significa uma dependência de produtos baratos e alimentos processados… o que resulta em taxas de diabetes e obesidade que são o dobro da média nacional… o que faz com que o Governo tenha aqui os maiores gastos na saúde per capita do país.

Do Rio Grande Valley olha-se assim para El Futuro: a zona do país onde há mais fome é também a que tem mais excesso de peso, com 38,5% de pessoas obesas. Aqui, e quase pela primeira vez na história dos EUA, as crianças têm uma esperança de vida inferior à dos seus pais.
Esta é uma crise que em Washington está no centro do debate sobre senhas de refeição, que ajudam quase um em cada sete americanos a subsistir. Será que a ajuda maciça do Governo na alimentação tem ajudado a resolver o problema ou será que criou outro? É suficiente que o Governo ajude as pessoas a comprar comida ou deve ir mais longe dizendo-lhes o que comer?

Uma sala de espera cheia de crianças

Blanca entra com os filhos no consultório na cidade de McAllen, que está em expansão, e eles saltam à vez para a balança: 50 quilos, 35, 25. “Não está perfeito, mas não é assim tão mau”, diz o médico. Então, a enfermeira entrega-lhe os resultados dos exames ao sangue das crianças — uma série de números alarmantes que ultimamente fazem parte da média nesta zona do Texas. Clarissa precisa de prestar atenção ao açúcar, diz ele. Antonio precisa de aumentar a dose da medicação para o colesterol.
“Posso continuar a comer Cheetos?”, pergunta Antonio. “Só um pacote por dia?”
“Já não”, responde o médico.
“Um por semana?”
“Não.”
O médico pousa a folha de exames e vira-se para Blanca. Tem outras 17 consultas agendadas para este dia — outras 17 conversas como esta. A sala de espera está cheia de crianças de Hidalgo County, 40% das quais têm graves problemas de fome pelo menos uma vez por mês e 32% delas são obesas. O seu desafio é o mesmo que preocupa tanta gente no Rio Grande Valley: como fazer com que famílias que têm tão pouco consumam menos?
“Ou resolve isto agora ou será demasiado tarde”, diz ele a Blanca. “Posso dar-lhe remédios, mas isso não é uma solução permanente.”


Havia uma altura em que Terry Canales achava que tinha encontrado a solução e que a solução passava pela política. Canales, um representante do estado do Texas de 33 anos, cresceu nos arredores de McAllen, rodeado de pobreza e obesidade, a que chama “morte dupla de Hidalgo County”. Ele passava tempo nas filas nas lojas de conveniência que estão por todo o lado e via as pessoas a usar os seus cartões Lone Star dados pelo Governo a comprar alguns dos snacks mais populares no Texas, pagando um dólar por Cheetos picantes com queijo, ou dois dólares por um cone de granisado coberto com gomas e chili (conhecido por mexican snow cone ou respado). Viu crianças a usar senhas de comida para comprar caixas de bebidas energéticas Red Bull e viu essas mesmas crianças a esperar na fila da clínica perto de sua casa, onde todos os dias 28 pessoas são diagnosticadas com diabetes.

“Estamos a matar-nos lentamente”, concluiu.
Assim, em 2012, tirou uma licença da sua advocacia para se candidatar, gastou 500 mil dólares do seu próprio dinheiro para conseguir um cargo que lhe paga 600 dólares por mês. Deixou a sua mulher e os três filhos em casa para passar a semana no Capitólio em Austin, onde se tornou um dos vários deputados do país que tentam mudar aquilo que as pessoas podem comprar com as senhas de refeição.

O Minnesota queria proibir os rebuçados, a cidade de Nova Iorque esperava poder eliminar os refrigerantes e a Carolina do Sul banir as bolachas e os bolos. Referiram como modelo o próprio programa WIC do Departamento da Agricultura americano [equivalente ao ministério português], que subsidia a compra de apenas uma centena de produtos essenciais, como o leite, queijo ou leite em pó para bebés. Mas, até agora, nenhum estado convenceu o Departamento, que apenas proíbe o uso de senhas para a compra de tabaco e álcool.
Por isso, Canales decidiu começar pelo passo mais pequeno de todos. Em vez de tentar regular compras de junk-food com senhas que todos os anos rondam os 2 mil milhões de dólares, redigiu um projecto-lei para impedir a compra com senhas de apenas um produto — as bebidas energéticas, com alto teor de cafeína e açúcar, que são caras e dirigidas às crianças, apesar do seu baixo valor nutricional.
“Elementar”, explicou, quando no Verão passado apresentou o projecto-lei na reunião de uma comissão. Depois, ofereceu o microfone e ficou à espera de ser rebatido. A primeira crítica, que ele já tinha antecipado, veio de um lobbyista da Associação de Bebidas do Texas, que desejava desesperadamente que todas as suas bebidas estivessem à venda para o mercado que mais cresce nos EUA: o das senhas de refeição, que nos últimos 12 meses quadruplicou: passou de 20 mil milhões para 80 mil milhões. Empresas como a Coca-Cola, Kraft e Mars gastaram na última década 10 milhões de dólares em lobbying no Congresso para que os seus produtos estejam acessíveis aos utilizadores das senhas de refeição. “Não há padrões claros para definir as comidas como boas ou más”, disse o lobbyista.

Mas depois veio uma litania de oradores que Canales não esperava. Deputados que partilhavam as suas ideias e a sua devoção à luta contra a pobreza. Em reuniões anteriores sobre outras leis que redigiu, muitos deles inscreveram-se para falar em sua defesa.
“É melhor não fazermos uma microgestão da alimentação de outras pessoas”, disse o director de uma organização interconfessional.
“Oponho-me”, afirmou o representante de um banco alimentar do Texas.
“Contra”, declarou o director de um grupo de combate à fome.
Durante mais de meia hora, Canales ouviu as preocupações que o seu projecto-lei suscitava, tal como outra proposta feita por um deputado para acabar com os doces e as batatas fritas: será que o Governo deve mesmo dizer às pessoas o que comer? E se sim, quem deveria analisar os cerca de 40 mil produtos que os supermercados normalmente têm e dividi-los em saudáveis e não saudáveis? Se as bebidas energéticas forem proibidas, porque não banir também as latas de café gelado, que têm o dobro da cafeína e o triplo do açúcar? Ou a bebida de fruta Sunny D? Ou Gatorade? Ou ponche de fruta? E, quando todos os produtos estiverem avaliados e divididos, o que acontece se algumas mercearias decidirem que não aceitam senhas de refeição? Ou se alguns dos beneficiários se sentirem demasiado estigmatizados para sequer irem às compras?

Será que os deputados não fariam melhor se estivessem a trabalhar para resolver os problemas de pobreza em vez de os regulamentar? Que tal criar programas de educação nutricional ou encorajar a presença de mais produtos frescos nos supermercados urbanos, ou construir parques e tornar as ruas mais seguras para as pessoas poderem fazer exercício físico? Porque não focarem-se no alívio do stress ligado à pobreza, que muitos estudos relacionam com os problemas de excesso de consumo de comida?
“Não é realista esperar que alguém faça esticar o seu dinheiro por estar preocupado com o conteúdo nutricional”, comenta um analista de política alimentar. “Eles simplesmente precisam de comer.”

A reunião da comissão terminou sem um voto na proposta de Canales, e subitamente também ele se sentiu um pouco menos seguro. Nas semanas seguintes, não fez nada para ressuscitar a sua proposta de lei, decidindo em vez disso angariar dinheiro para campanhas de sensibilização da diabetes e educação nutricional.
“Quanto mais se aprende nesta função, mais complicado se torna tomar uma posição”, disse ao seu director distrital uma noite, poucos meses depois da reunião da comissão.
“O que quer fazer quanto a isso, patrão?”, pergunta o director distrital.
“Não quero nunca aprovar uma lei para depois me arrepender”, afirmou. “Vamos ensinar as pessoas a fazerem boas escolhas e partir daqui.”

“Tem alguma comida a mais? Qualquer coisa”

Horas depois nessa mesma tarde, Luisa Colin e Jessica Rueda agarravam nas suas brochuras sobre nutrição e nos seus vegetais de plástico e dirigiam-se à fronteira com o México para fazer esse tipo de ensinamentos. Há três anos que trabalham juntas como educadoras nutricionais, pagas em parte pelo Departamento de Agricultura para ensinar melhores hábitos alimentares a famílias com baixos rendimentos. Esta era a solução patrocinada pelo Governo.
“Se as pessoas ao menos tivessem os conhecimentos básicos”, diz Colin.
“Se elas ao menos compreendessem as suas escolhas”, diz Rueda.

As duas deixam McAllen em direcção ao deserto, onde as estradas asfaltadas dão lugar a terra batida e a terra batida dá lugar a uma série de diques de irrigação e rochedos. A pouco mais de três quilómetros da fronteira, param junto a um conjunto de casas desconjuntadas chamado “Little Mexico” [Pequeno México] onde os habitantes construíram as suas próprias casas em contraplacado e zinco. A comunidade não tem água canalizada e tem electricidade de forma intermitente. Galinhas vagueiam pelas ruas e um burro estaca-se num cruzamento a comer lixo. Duas crianças correm cá para fora para as saudar, e Rueda pergunta-lhes em espanhol: “A tua mãe está em casa? Quero falar com ela sobre um assunto.”


A sua função é andar pelo bairro e levar as mulheres para as aulas de nutrição que podem melhorar a sua alimentação: melhores quantidades das porções que ingerem, mais verduras e cereais integrais, peixe fresco em vez de carne, pelo menos 30 minutos de exercício por dia. Estes são os princípios do seu trabalho. A investigação mostra que por cada dólar que se gasta em educação alimentar o Governo poupa dez dólares em futuros custos com a saúde. Mas, ultimamente, o USDA cortou o financiamento dos programas de nutrição em 25% e o Congresso ameaçou com novos cortes. Uma dúzia de funcionários relacionados com a nutrição em Hidalgo County foi reduzida para seis mulheres empenhadas que trabalham 60 horas por semana para responder às necessidades que cada vez são mais. Agora, em algumas das suas conversas, os objectivos de Rueda tornaram-se mais básicos: manter as pessoas nutridas e com vida, diz ela.
“Como está a sua alimentação?”, pergunta a uma mulher em espanhol à frente da entrada de uma casa onde falta a porta.
“Comemos o que conseguimos ter”, responde a mulher.
“Come vegetais?”
“Não muito. Talvez feijão, algum molho de pimento.”
“Faz exercício?”
“Não.”
“Tem frigorífico?”
“Já não.”

A mulher explicou que guardou a pouca comida que tinha numa geleira e que a mercearia com produtos frescos mais próxima ficava a mais de 11 quilómetros. Ninguém no Little Mexico se aventura fora de casa depois das quatro da tarde, com medo dos cães e dos cartéis da droga que cirandam pelas ruas.

Ruenda preparou-se para a casa seguinte, mas a mulher chamou-a para lhe fazer uma pergunta à parte — uma pergunta cuja resposta não está nas suas seis lições nutricionais e que Rueda ouviu muitas vezes no Little Mexico e em centenas de lugares como este.
“Tem alguma comida a mais? Qualquer coisa”, perguntou.
“Sim”, responde Rueda. “Podemos trazer-lhe alguma coisa.”
Se a educação não conseguiu quebrar o ciclo de pobreza e da obesidade, e se a política não conseguiu quebrar também este ciclo, então a única solução que resta para uma família no meio da crise é a solução mais básica de todas: comer melhor, uma refeição de cada vez.


Fruta e dieta

Acaba hoje”, diz Blanca Salas ao seu filho Antonio, quando voltam do médico.
“Estou a dieta”, diz ele.
“Eu também”, responde ela.
Blanca frequentou uma aula de nutrição no início da semana e agora com uma mão agarra a lista de alimentos recomendados pelo Governo e com a outra faz o inventário dos produtos que tem no frigorífico. “Legumes frescos”, sugere a lista, e Blanca encontra dois tomates podres, uma embalagem de brócolos congelados e duas embalagens de sopa instantânea. “Fruta”, lê-se no papel; e ela encontra gelados de gelo com sabor a uva e três maçãs. “Lacticínios”: tinham uma embalagem de chantilly e Nesquik. “Cereais integrais”: três pizzas congeladas e um pacote de salsichas panadas. “Lanches saudáveis”: 24 pacotes de Cheetos picantes.


Ela já tinha esgotado a sua conta de senhas de refeição do mês e não tinha mais para gastar até à chegada do próximo depósito, que estava a alguns dias de distância. Desta vez, ela receberia 30 dólares ou menos, como toda a gente que depende de senhas de refeição, por causa de o financiamento ter esgotado em Novembro. Voltou a olhar para a lista de alimentos recomendados: queijo cottage sem gordura, quinoa, couve chinesa, ervilhas e dezenas de outros produtos. Alguns de que ela nunca tinha ouvido falar; a maioria nunca os encontrou nas lojas de 1 dólar do Sul do Texas.

Nasceu nos Estados Unidos e nos últimos anos em que ser pobre geralmente também significava ser-se magro. Os pais mentiram sobre a sua idade quando tinha 11 anos, para ela poder trabalhar no campo com eles. Comiam o que apanhavam, criavam as suas próprias galinhas e coziam o arroz ao quilo. Mas a expansão de McAllen chegou ao campo e Blanca abandonou a escola no 10.º ano e começou a trabalhar na [cadeia de fast-food] Kentucky Fried Chicken. Teve o primeiro bebé aos 19 anos e o segundo poucos anos depois, com um homem que rapidamente desapareceu para o México. Concorreu a habitação social numa comunidade que não dava muito espaço para que se cultivasse a própria comida, perto de uma rua comercial com 17 restaurantes de fast-food alinhados. Agora, todas as manhãs a caminho da escola, os filhos lêem cartazes que anunciam “Menu de um dólar”, “Grande menu de um dólar”, “Tacos a um dólar” e “Cheetos picantes, dois por um dólar”. Estes eram mimos que eles adoravam e os mimos que podiam comprar.

Durante anos, Blanca tentou oferecer um antídoto, obrigando as crianças a sentarem-se ao seu lado enquanto dava a si própria injecções de insulina. “Vocês têm de olhar para o vosso futuro”, dizia-lhes. “É isto que querem?” Tentou planear um menu e cozinhar jantares de família, mas agradar a cinco crianças com um orçamento reduzido deixava-a exausta. Só comiam brócolos se ela os cobrisse com manteiga e queijo. Só comiam pasta de abacate se tivessem ao lado triângulos de milho. Os almoços pré-preparados de dieta, de 3,50 dólares cada, que às vezes mandava para a escola voltavam para casa com peru e tostas integrais por comer.

À medida que a sua saúde foi piorando, começou a comprar mais alimentos que sabia que eles iriam comer e que poderiam preparar sozinhos. É uma mãe solteira com pouco dinheiro e ainda menos energia, explicava; era mais importante dar o suficiente do que preocupar-se com aquilo que realmente lhes estava a dar.

Agora Antonio entra na cozinha à procura de alguma coisa para comer. “Faz a escolha certa”, diz-lhe ela. Observa-o a agarrar num saco de gomas com sabor a fruta e uma Coca-Cola zero.
“Fruta e dieta”, diz ele.
“Boa”, diz ela.
Sentam-se os dois na sala de estar, lado a lado no sofá, enquanto Antonio faz os trabalhos de casa de Matemática e come o seu lanche. Chegam as 15 horas e engolem juntos os seus remédios para o colesterol. Chegam as 16h, Salas testa o açúcar no sangue. Chegam as 17h e injecta a sua dose de insulina.
“Estou com fome”, diz-lhe Antonio.
“Espera pelo jantar”, responde-lhe ela.
Continua sentado ao lado dela no sofá durante mais uns minutos, tentando ser paciente, apanhado no ciclo que confunde políticos e nutricionistas e famílias de Rio Grande Valley. O que faz pior, passar fome ou comer porcarias? A escolha é deixada a um rapaz de nove anos preso a uma cultura que lhe dá muito e demasiado pouco ao mesmo tempo.
“Preciso de comer”, diz ele. Volta à cozinha e abre o frigorífico.

Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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